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AMARAL E A ALCA
Enfim surgiu uma manifestação do governo brasileiro condizente com a perspectiva real da Área de Livre Comércio das Américas. O ministro do Desenvolvimento, Sérgio Amaral, declarou que, se
os norte-americanos continuarem se
recusando a colocar as "verdadeiras
questões" sobre a mesa de negociações, não haverá "razão para que nós
concluamos esse acordo". Se tiver o
devido apoio do governo brasileiro,
Amaral pode ter inaugurado uma
etapa mais pragmática na estratégia
do Brasil para a Alca.
A transição para um comportamento menos dogmático do governo brasileiro em sua política de comércio exterior advém de uma série
de fatores. O principal deles diz respeito ao despertar tardio e parcial de
setores do Executivo para o fato de
que o acúmulo de vultosos saldos
positivos no comércio exterior é a
única forma de amenizar a suscetibilidade da economia brasileira a crises
externas e de, assim, construir bases
para o crescimento sustentado.
Nesse lento processo de tomada de
consciência, a Alca permanecia como um verdadeiro tabu. Enquanto
muitos formuladores de política econômica brasileiros ainda mantinham suas crenças nas virtudes auto-evidentes do livre-mercadismo, os
Estados Unidos e a Europa empreendiam escaladas protecionistas.
Em dezembro, a Câmara dos Representantes norte-americana concedeu um mandato para que o presidente Bush negociasse a Alca. A Autorização para Promoção Comercial
(o "fast track") retira da mesa de negociações praticamente todos os
grandes setores de interesse para os
exportadores brasileiros. Na época, a
reação de Brasília foi tímida.
Foi preciso que os americanos aplicassem doses adicionais de protecionismo no aço e na agricultura para
que um representante do governo
brasileiro enfim se dispusesse a declarar o óbvio: não interessa ao Brasil
negociar nesses termos. A atitude de
Amaral nada tem que ver com um
gesto radical para inviabilizar a Alca.
Trata-se apenas de recomendação
para que os americanos mudem suas
ofertas de negócio a fim de que possa
haver perspectiva de acordo. Afinal,
como disse o ministro Celso Lafer
(Relações Exteriores), a Alca, para o
Brasil, não deve ser encarada como
destino, mas como opção.
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