São Paulo, segunda-feira, 13 de maio de 2002

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AMARAL E A ALCA

Enfim surgiu uma manifestação do governo brasileiro condizente com a perspectiva real da Área de Livre Comércio das Américas. O ministro do Desenvolvimento, Sérgio Amaral, declarou que, se os norte-americanos continuarem se recusando a colocar as "verdadeiras questões" sobre a mesa de negociações, não haverá "razão para que nós concluamos esse acordo". Se tiver o devido apoio do governo brasileiro, Amaral pode ter inaugurado uma etapa mais pragmática na estratégia do Brasil para a Alca.
A transição para um comportamento menos dogmático do governo brasileiro em sua política de comércio exterior advém de uma série de fatores. O principal deles diz respeito ao despertar tardio e parcial de setores do Executivo para o fato de que o acúmulo de vultosos saldos positivos no comércio exterior é a única forma de amenizar a suscetibilidade da economia brasileira a crises externas e de, assim, construir bases para o crescimento sustentado.
Nesse lento processo de tomada de consciência, a Alca permanecia como um verdadeiro tabu. Enquanto muitos formuladores de política econômica brasileiros ainda mantinham suas crenças nas virtudes auto-evidentes do livre-mercadismo, os Estados Unidos e a Europa empreendiam escaladas protecionistas.
Em dezembro, a Câmara dos Representantes norte-americana concedeu um mandato para que o presidente Bush negociasse a Alca. A Autorização para Promoção Comercial (o "fast track") retira da mesa de negociações praticamente todos os grandes setores de interesse para os exportadores brasileiros. Na época, a reação de Brasília foi tímida.
Foi preciso que os americanos aplicassem doses adicionais de protecionismo no aço e na agricultura para que um representante do governo brasileiro enfim se dispusesse a declarar o óbvio: não interessa ao Brasil negociar nesses termos. A atitude de Amaral nada tem que ver com um gesto radical para inviabilizar a Alca. Trata-se apenas de recomendação para que os americanos mudem suas ofertas de negócio a fim de que possa haver perspectiva de acordo. Afinal, como disse o ministro Celso Lafer (Relações Exteriores), a Alca, para o Brasil, não deve ser encarada como destino, mas como opção.



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