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AS ILUSÕES PERDIDAS
O governo Luiz Inácio Lula da
Silva aprende a duras penas a
principal lição da crise diplomática
com a Bolívia. O Brasil não pode sustentar a sua política externa numa rede de solidariedade retórica, em nome de uma vaga idéia de unidade sul-americana. A constrangedora dificuldade do chanceler Celso Amorim
em rebater de pronto os desaforos
lançados por Evo Morales atesta bem
como esse tem sido um parto difícil.
O presidente boliviano, que se considera o vetor de uma "revolução" indígena no país andino, aumenta os
decibéis contra o Brasil e a Petrobras
com a intenção de obter maioria confortável no colegiado -a eleição está
marcada para 2 de julho- que vai escrever a nova Constituição da Bolívia.
A estratégia parece funcionar, atestam algumas sondagens de opinião.
Compreender os motivos de Morales não significa perdoá-lo por seus
arroubos retóricos. Se a estatal brasileira foi acusada de contrabandear
gás natural e de atuar na ilegalidade,
é o caso de repudiar com veemência
o ataque. É o caso de lembrar que a
atuação da empresa brasileira se assenta em acordos com o Estado boliviano e que a Petrobras e os consumidores brasileiros vêm sustentando as
exportações, a arrecadação tributária
e a economia da Bolívia.
Tanto melhor se a crise redundar,
como parece, no distanciamento entre a diplomacia brasileira e Hugo
Chávez. A pregação do líder venezuelano pela América Latina nada acrescenta aos interesses comerciais e estratégicos do Brasil. O chefe do Estado sul-americano mais populoso e
industrializado tem mais a fazer do
que emprestar seu tempo e sua representatividade à diplomacia demagógica e conflituosa de Chávez. Será
ótimo se o Itamaraty não tiver de gastar mais seu latim em temas etéreos
como o Grande Gasoduto do Sul.
A negociação com a Bolívia sobre
os termos do fornecimento de gás ao
Brasil e o ressarcimento das perdas
patrimoniais da Petrobras é o que
mais interessa neste momento. As
tratativas, da parte de Brasília, devem
ser feitas em tom o mais cordial possível -não é necessário "porrete"-,
mas com a firmeza de quem tem a
seu favor o tamanho do mercado
consumidor, do qual depende o PIB
boliviano, e as condições contratuais. O recurso a tribunais internacionais não deve ser descartado.
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