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Novos conservadores
Herdeiros de Thatcher voltam ao poder em coalizão incomum, a ser testada pela crise econômica europeia
APÓS 13 ANOS de maioria
trabalhista no Parlamento britânico, o Partido Conservador retorna enfraquecido ao poder. Os
herdeiros de Margaret Thatcher
venceram as eleições gerais da
semana passada, sem no entanto
obter maioria absoluta na Câmara dos Comuns.
Aliados aos liberais-democratas, legenda coadjuvante na política do Reino Unido, conseguiram fazer de David Cameron, 43,
o líder de uma coalizão incomum, a ser imediatamente testada pela crise econômica que afeta o continente europeu e ultrapassa o canal da Mancha.
De certo modo, a situação do
Reino Unido não é muito melhor
do que a de Portugal e Espanha,
sempre apontados como as próximas vítimas da especulação
contra governos europeus com
dificuldades para pagar suas
crescentes dívidas.
As duas nações ibéricas registraram deficits orçamentários de
cerca de 9% e de 11% do PIB em
2009. O Reino Unido, de 11%.
Portugal tem uma dívida pública
de 77% do PIB. Os britânicos devem o equivalente a 68%.
É fato que o Reino Unido não
adotou o euro, o que aumenta a
sua margem de manobra econômica. Conta, ao mesmo tempo,
com uma economia muito maior
do que a dos vizinhos ao sul. Mas
terá de reduzir os deficits.
As dificuldades econômicas
exigem equilíbrio orçamentário,
que pode ser alcançado com corte de gastos ou mais impostos. A
primeira solução foi adotada de
maneira radical por Thatcher na
década de 80, mas os novos conservadores não têm meios nem
disposição para usar apenas esse
instrumento.
Thatcher pôde fazer caixa ao
vender empresas estatais e assim
compensar cortes de impostos.
Tal recurso esgotou-se.
O progressivo deslocamento
dos conservadores para o centro
do espectro político, onde se encontram todas as principais legendas do país, impede cortes
em gastos sociais. Cameron é defensor do sistema público de saúde do Reino Unido. Ele e seu vice-premiê, o liberal-democrata
Nick Clegg, incluíram entre os
itens do programa de governo
um aumento dos recursos para
atendimento médico.
A nova coalizão cortará gastos,
por certo, mas terá que aumentar a arrecadação. Mal tomou
posse, já anuncia a intenção de
elevar alíquotas dos impostos sobre herança e renda.
Thatcher revitalizou a economia do país ao desregulamentá-la e fazer de Londres um vibrante centro financeiro. Cameron e
Clegg herdam uma crise que nasceu da liberdade de movimentos
conferida ao setor bancário, que
pretendem regulamentar.
Mesmo se o crescimento econômico for retomado, a tarefa
não será fácil. Cameron não tem
o controle total de seu partido ou
de seu governo. Comprometeu-se com os novos aliados a realizar
um plebiscito que pode alterar o
atual sistema de voto distrital no
Reino Unido -se aprovada a mudança, o próprio Partido Conservador tende a se enfraquecer.
Ainda é difícil saber até que
ponto seus correligionários aceitarão ir, tanto quanto se será sustentável a aliança a que se lançaram para selar a volta ao poder.
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