São Paulo, quinta-feira, 13 de junho de 2002

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POLÍTICA DEFENSIVA

A instabilidade no mercado financeiro se agravou. O dólar voltou ao patamar de R$ 2,80. A taxa de risco-Brasil, medida pelo Emerging Markets Bond Index, do banco J.P.Morgan, ultrapassou os 1.300 pontos (terceiro maior risco mundial, depois de Argentina e Nigéria).
Essa turbulência tem sido agravada pelas estratégias defensivas de bancos, fundos de investimento e empresas. Bancos nacionais e estrangeiros cortam o crédito e elevam a demanda por dólar e outros ativos. As empresas procuram saldar suas dívidas, sobretudo em moeda estrangeira. Há indicações também de maior saída de recursos pela conta CC-5: em abril foram US$ 396 milhões; em maio, US$ 616 milhões.
Assim, os agentes econômicos buscam resguardar o valor dos patrimônios e reduzir o nível de exposição ao risco de crédito. Além disso, parece que despertam para um dos problemas estruturais do anos do real, qual seja, o elevado endividamento público. A maior desconfiança dos investidores está relacionada às dificuldades do governo de rolar sua dívida em condições cada vez mais adversas. A despeito dessa crise de confiança, ainda não há sinal de risco iminente de insolvência da dívida pública brasileira.
Há excesso de recursos livres no caixa dos bancos. O BC ainda tem instrumentos para combater essa situação, por exemplo, mediante a elevação dos depósitos compulsórios ou a diminuição da exposição dos bancos ao dólar. No primeiro caso, o efeito imediato seria o aumento na taxa de juros cobrada pelos bancos.
O patamar das reservas internacionais não parece garantir fôlego para grandes intervenções no câmbio. Há indícios de que o governo anuncie hoje saque antecipado, que pode chegar a US$ 9,4 bilhões, de dinheiro do FMI, extinguindo uma reserva disponível nessa instituição. Esses recursos reforçariam as reservas cambiais do Brasil com o objetivo de facilitar a recomposição de expectativas. De todo modo, o raio de manobra do BC está muito estreito: ou contém a liquidez no sistema bancário ou deixa o câmbio se deteriorar. Reduzem-se drasticamente as condições para corte na taxa de juros básica, na próxima reunião do Copom.


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