São Paulo, quinta-feira, 13 de junho de 2002

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ROTINA INSUPORTÁVEL

O crime fincou raízes e instituiu-se como Estado totalitário paralelo nos morros do Rio de Janeiro. Essa, certamente, é uma das razões da violência que atemoriza a classe média. Mas o medo de ser vítima de sequestros ou de assassinatos ainda não despertou, nesse estrato da sociedade, a atitude política necessária para que as causas do problema sejam atacadas com vigor. Propiciou, basicamente, movimentos defensivos de enclausuramento em fortalezas residenciais, em carros à prova de bala, ou de fuga dos espaços públicos. A garantia de segurança individual que esses recursos fornecem é, porém, bastante limitada.
Casos como o assassinato brutal do jornalista Tim Lopes -para além do que acarretam em termos de cerceamento da liberdade de imprensa- acabam por estabelecer pontos de contato entre duas realidades que, à luz do dia, pouco se cruzam.
Sob pressão corporativa e da opinião pública, as autoridades policiais se empenham mais do que de costume para elucidar o caso. Da mesma forma agiu a polícia paulista por exemplo priorizando o combate aos sequestros -que amedrontam, hoje, até a classe média- ou redobrando esforços nas investigações dos assassinatos dos prefeitos Antonio da Costa Santos (de Campinas) e Celso Daniel (de Santo André).
Esses episódios são exemplares da influência que o público informado pode exercer sobre os governantes. Na imensa população pobre submetida a uma rotina insuportavelmente violenta especialmente nos morros do Rio, decerto há muitas pessoas e movimentos sociais que lutam para escapar do jugo do totalitarismo criminoso. Mas a sua luta não terá o sucesso desejado enquanto o conjunto da sociedade não passar a pressionar o poder público nesse sentido.


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