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ROTINA INSUPORTÁVEL
O crime fincou raízes e instituiu-se como Estado totalitário paralelo nos morros do Rio de Janeiro. Essa, certamente, é uma das
razões da violência que atemoriza a
classe média. Mas o medo de ser vítima de sequestros ou de assassinatos
ainda não despertou, nesse estrato
da sociedade, a atitude política necessária para que as causas do problema sejam atacadas com vigor.
Propiciou, basicamente, movimentos defensivos de enclausuramento
em fortalezas residenciais, em carros
à prova de bala, ou de fuga dos espaços públicos. A garantia de segurança individual que esses recursos fornecem é, porém, bastante limitada.
Casos como o assassinato brutal
do jornalista Tim Lopes -para além
do que acarretam em termos de cerceamento da liberdade de imprensa- acabam por estabelecer pontos
de contato entre duas realidades que,
à luz do dia, pouco se cruzam.
Sob pressão corporativa e da opinião pública, as autoridades policiais
se empenham mais do que de costume para elucidar o caso. Da mesma
forma agiu a polícia paulista por
exemplo priorizando o combate aos
sequestros -que amedrontam, hoje, até a classe média- ou redobrando esforços nas investigações dos assassinatos dos prefeitos Antonio da
Costa Santos (de Campinas) e Celso
Daniel (de Santo André).
Esses episódios são exemplares da
influência que o público informado
pode exercer sobre os governantes.
Na imensa população pobre submetida a uma rotina insuportavelmente
violenta especialmente nos morros
do Rio, decerto há muitas pessoas e
movimentos sociais que lutam para
escapar do jugo do totalitarismo criminoso. Mas a sua luta não terá o sucesso desejado enquanto o conjunto
da sociedade não passar a pressionar
o poder público nesse sentido.
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