![]() São Paulo, quinta-feira, 13 de junho de 2002 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES História sem memória
MARCO AURÉLIO GARCIA
Nossas prioridades sempre incluíram o combate à inflação, mas não à custa de oito anos de estagnação ou crescimento medíocre do PIB, de um aumento estarrecedor da dívida pública, de juros escorchantes, da sobrevalorização cambial que levou à degradação do comércio exterior, do sucateamento da indústria, da entrega lesiva do patrimônio nacional. Não estão, tampouco, nas prioridades do PT submeter o país a uma vulnerabilidade externa sem precedentes, como a que vivemos hoje e que inquieta investidores e especuladores bem mais do que o propalado "risco Lula". O PT não precisa de lições de austeridade fiscal, pois a pratica em suas administrações municipais e estaduais, mas acredita ser seu dever advertir o país sobre a pesada herança econômica e sobretudo social que FHC legará a seu sucessor, aí incluindo a ruptura do pacto federativo. Os intelectuais tucanos sempre foram pródigos em críticas pela suposta incapacidade do partido em ter uma política ampla de alianças. Agora, quando o Partido dos Trabalhadores busca uma aproximação com o PMDB de Pedro Simon, Requião e Quércia, dentre outros, consciente de que a gravidade do quadro nacional exige um alargamento da base de sustentação de um futuro governo, os tucanos, aliados de Jader Barbalho, Geddel, Maluf, Roberto Jefferson e tantos outros varões ilustres que formam a reserva moral do país, indignam-se. Vou pesquisar na coleção da Folha em quantos artigos Boris Fausto criticou, no passado, os outdoors em que FHC aparecia ao lado de Maluf, ironicamente colocados nas ruas de São Paulo ao lado daqueles em que o então presidente candidato figurava apoiando Mário Covas. Tentarei exumar igualmente quantas críticas fez ao conluio FHC-ACM e outros "modernos" do PFL. Desconfio de que nada encontrarei. Talvez possa deparar com doutas notas de outro intelectual tucano, mais audaz, expondo teorias "pendulares" sobre a necessidade de se aliar a setores arcaicos para chegar à modernidade. Não há "silêncio obsequioso" dos que cercam Lula a respeito de uma possível aliança com o PMDB. Há a compreensão de que existem momentos na vida de um país em que alianças podem e devem ser feitas em nome de objetivos nacionais mais amplos, sem que elas impliquem conluio, troca de favores e de cargos e as incontáveis "operações abafa" que marcaram os últimos oito anos da vida política nacional, quando a governabilidade foi negociada no dia-a-dia, a tabela de preços dessa negociação cara e os resultados para o país pífios. Essa é a pesada herança que Fernando Henrique deixará ao país. Um historiador sério, como Boris Fausto, pode sofrer as tentações da paixão política, mas deveria seguir os conselhos do marqueteiro de José Serra, Nizan Guanaes, e orientar seus escritos mais pela razão. Marco Aurélio Garcia, 60, professor do Departamento de História da Unicamp, é secretário de Cultura do município de São Paulo e membro da Executiva Nacional do PT. Texto Anterior: Frases Próximo Texto: Marco Vinicio Petrelluzzi: Alianças e princípios Índice |
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