São Paulo, quinta-feira, 13 de junho de 2002

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TENDÊNCIAS/DEBATES

Alianças e princípios

MARCO VINICIO PETRELLUZZI

É curioso como, há algum tempo, o PMDB passou a ser o partido mais procurado para a formalização de alianças objetivando a sucessão presidencial. É bem verdade que esse partido, em âmbito nacional, possui um espectro tão variado de lideranças políticas que lhe permite ser cortejado da esquerda à direita.
Entretanto, mesmo com essa amplitude de tendências políticas -o que é perfeitamente compreensível em razão das origens do PMDB-, verifica-se que, durante os últimos anos, esse partido tem sido um fiel aliado do governo liderado pelo PSDB, compondo a chamada base aliada. Indicou alguns ministros de Estado e forneceu muitos de seus quadros para a composição dos demais escalões de governo. Além disso, no mais das vezes, sustentou no Congresso Nacional as teses de governo do presidente Fernando Henrique Cardoso.
Essa conduta política permite que a aliança entre o PSDB e o PMDB no âmbito nacional seja perfeitamente justificável, natural e até mesmo desejável. Não é por outra razão que a tendência majoritária do PMDB, mesmo com algumas incoerentes manifestações em contrário, é no sentido da concretização da aliança com o PSDB, inclusive com a indicação da deputada Rita Camata para candidata a vice-presidente da República na chapa do senador José Serra.
Entretanto, quando essa aliança busca se reproduzir no âmbito estadual, a situação se modifica. Se, no Rio Grande do Sul, em Pernambuco ou Santa Catarina, o PMDB possui quadros como o senador Pedro Simon, o governador Jarbas Vasconcelos ou o deputado Luiz Henrique, no Estado de São Paulo a figura hegemônica do partido é o ex-governador Orestes Quércia.
É bem verdade que, recentemente, o candidato a presidente pelo PT, Luiz Inácio Lula da Silva, tentou minimizar a carga negativa que pesa sobre essa figura política. Certamente o fez e deverá contabilizar o custo político de seu gesto, porque Orestes Quércia é o principal artífice da tentativa de aliança entre o PMDB e o PT.
Mas, apesar dessa tentativa de relegar o significado político do quercismo, não é possível esquecer o que representou no passado recente do Estado essa visão político-administrativa.


Cabe-nos, em defesa da ética e da correção na política, mostrar que o PSDB paulista se mantém fiel a suas origens


O governo Covas-Alckmin passou sete anos reorganizando as finanças públicas de São Paulo por conta da herança deixada pelo quercismo. Durante todo esse período, foi feito um enorme esforço no sentido de recuperar a saúde financeira do Estado. Ao mesmo tempo buscou-se concluir o escandaloso número de obras iniciadas e paralisadas logo em seguida, como se o importante não fosse a finalização dessas obras, mas tão somente concluir licitações que garantissem contratos em valores de tal modo inadequados que, posteriormente, foram renegociados com a obtenção de relevantes descontos.
Vale a pena lembrar a angústia com que o governador Mário Covas informava que duas operações denominadas ARO (Antecipação de Receita Orçamentária), efetuadas pelo governo Quércia com o Banespa, às vésperas das eleições de 1990, representavam sozinhas mais de um terço da dívida do Estado de São Paulo.
A política de quebrar o Estado para eleger o sucessor não pode ser esquecida pelo partido que foi a testemunha mais íntima daquilo que o quercismo significou para São Paulo.
Há quem argumente que aliança não se faz entre iguais. É verdade. Alianças são possíveis quando dois ou mais grupos, com divergências de natureza política, superam-nas em face de um objetivo comum.
Entretanto a divergência do PSDB com o quercismo não é meramente política. Trata-se de contradição de postura e de princípios. Postura e princípios não são itens negociáveis ou sobre os quais se permita composição ou superação. E é por essa razão que é vedado ao PSDB de São Paulo efetuar qualquer tipo de aliança com esse grupo político.
Essa aliança, caso se concretizasse, ressuscitaria o cadáver insepulto do quercismo em nosso Estado. Quercismo que, diga-se, somente é cortejado em razão do cartorial método de distribuição de tempo no horário eleitoral gratuito na televisão. Além disso, tal aliança criaria enorme rejeição popular contra o PSDB, fortalecendo a sempre presente, mas equivocada, impressão de que todos na política são iguais.
Cabe-nos, pois, em defesa da ética e da correção na política, mostrar que o PSDB de São Paulo se mantém fiel a suas origens e que não transigirá naquilo que lhe é mais caro.


Marco Vinicio Petrelluzzi, 46, é procurador de Justiça, membro fundador do PSDB e pré-candidato do partido a deputado federal por São Paulo. Foi secretário de Segurança Pública do Estado de São Paulo (gestões Covas e Alckmin).



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