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TENDÊNCIAS/DEBATES
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O governo deve reduzir a meta de inflação de 2011?
SIM
Uma década de responsabilidade monetária
ROBERTO LUIS TROSTER
O
CONSELHO Monetário Nacional fixará a meta de inflação
para 2011 neste mês, quando o
regime de metas de inflação comemora dez anos. A decisão abre a oportunidade para um avanço na gestão da
moeda no Brasil. A escolha é repetir a
meta atual, que perpetua desnecessariamente o imposto inflacionário e os
juros reais mais altos, ou avançar; é a
troca entre o populismo monetário
de curto prazo e a consolidação da
responsabilidade.
O regime de metas, combinado com
o câmbio flexível e a disciplina fiscal,
se iniciou em 1999, no ápice da crise
externa. Seu objetivo era fixar a diretriz para a atuação do Banco Central.
Sua implantação foi complicada em
razão dos choques de oferta -crise de
energia, impactos do "default" argentino e dos escândalos contábeis etc.-
e da estrutura de preços internos
-indexação elevada e canais de
transmissão de política monetária
emperrados.
A redução da taxa básica para um
dígito (9,25%) nesta semana, coincidentemente com uma década do regime, deve ser celebrado. É fruto da
gestão macroeconômica responsável,
de fatores conjunturais favoráveis e
da condução da política monetária
que conseguiu combinar transparência com autonomia nas decisões e flexibilidade para absorver crises com
rigor em perseguir objetivos. São resultados positivos.
Até o início deste governo, não havia uma meta de longo prazo explícita. Entretanto, o presidente do Banco
Central e o então ministro da Fazenda fixaram a meta de longo prazo em
4%, em 2003. Os resultados obtidos
até agora mostram que é factível reduzir a inflação para esse patamar. O
momento é oportuno para fixar a meta de 2011 nesse valor.
A diferença entre repetir os 4,5% de
2006 a 2010 e baixar para 4% é emblemática, pois afirma o compromisso com uma inflação mais baixa, com
a eliminação dos fatores que a tornam
latente e com o cumprimento da meta de inflação de longo prazo. Os custos de transição são mínimos, e os ganhos, expressivos.
O quadro conjuntural é oportuno
para reduzir a meta em 0,5 ponto percentual. As expectativas apontam a
inflação deste ano e a do próximo inferiores a 4,5%. O real está valorizado
e a dinâmica da dívida pública está
sob controle. Independentemente da
meta de 2011 estar em 4% ou 4,5%, a
taxa básica de juros será de um dígito.
A queda da inflação tem impactos
positivos de bem-estar: há uma diminuição nas taxas reais e nominais de
juros, bem como a redução do imposto inflacionário; a absorção de choques de oferta tem custos menores;
há uma dispersão menor de preços; a
volatilidade financeira é menor; a
oferta de crédito é mais abundante; a
possibilidade de surpresas inflacionárias diminui consideravelmente; e,
por fim, traz impactos positivos na
desconcentração da renda.
Perpetuar a meta de 4,5% sinaliza a
manutenção do imposto inflacionário, de juros reais mais elevados, de
salários reais menores e o abandono
de cumprimento da meta de longo
prazo de 4%. Há uma dissipação de
crescimento. É paradoxal, mas o
anúncio de uma meta mais frouxa,
considerando o atual quadro conjuntural, significa menos crescimento e
juros reais mais altos por mais tempo.
O regime de metas de inflação foi
um avanço institucional importante,
que substituiu uma história de confiscos, planos econômicos mirabolantes, mudanças de moeda etc. por metas críveis, coordenando expectativas
e minimizando os custos sociais de
absorção de choques.
Há espaço para avançar mais.
As metas de inflação de países industrializados que adotaram o regime
estão centradas num patamar inferior, em cerca de 2%. Entretanto, é
conveniente consolidar a taxa de 4%
por alguns anos para depois avançar.
É tempo de ousar: há uma percepção de que a aplicação rígida apresenta resultados melhores.
ROBERTO LUIS TROSTER, 58, doutor em economia pela
USP, é sócio da Integral Trust. Foi economista-chefe da
Febraban (Federação Brasileira dos Bancos), da ABBC e
do Banco Itamarati.
robertotroster@uol.com.br
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