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São Paulo, domingo, 13 de julho de 2003

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CLÓVIS ROSSI

Chamem o Duda

LISBOA - Luiz Inácio Lula da Silva tem sido uma espécie de atração turística nos países em que ou há grande número de brasileiros ou uma porção razoável da população sabe que o Brasil existe e que elegeu, faz pouco, um operário originalmente de esquerda para presidi-lo.
Por isso mesmo, começa a causar decepção o comportamento asséptico que Lula vem adotando nas suas viagens. Já havia acontecido, no mês passado, em Assunção, durante a cúpula do Mercosul.
A mídia local caiu matando no que chamou de "discurso burocrático" de Lula e na falta de contato com o público, em brutal contraste com a total disponibilidade de Hugo Chávez, o presidente venezuelano.
Agora é o "Público", o melhor jornal português, no qual Eunice Lourenço diz que "tem faltado festa e povo (à visita), na qual o presidente brasileiro tem parecido espartilhado pelo fato (terno) e gravata, que o fazem suar em bicas".
Dê-se um desconto ao corporativismo embutido na queixa, tanto em Assunção como em Lisboa. Os jornalistas queremos que o presidente fale (conosco, não com o tal de povo) de cinco em cinco minutos, em qualquer hora e circunstância.
Dê-se um segundo desconto ao fato de que a "falta de povo" citada pelo "Público" embute também a idéia estereotipada de que líderes vindos do andar de baixo têm de ter comportamento "popular" (seja o que for "comportamento popular" na cabeça de cada qual).
Ainda assim, estão faltando duas coisas nas viagens internacionais de Lula: uma é informação qualificada a respeito dos contatos por ele mantidos, necessariamente longe dos olhos e dos ouvidos dos jornalistas. Faltava também na era FHC, mas um erro não justifica o outro.
A outra coisa é mais Lula e menos Luiz Inácio. Por dever de ofício, presto atenção até à gestualística dos presidentes que me toca acompanhar e sou forçado a conceder que Eunice Lourenço acertou na mosca com a expressão "espartilhado" usada para caracterizar o Lula de Lisboa.


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