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São Paulo, domingo, 13 de julho de 2003

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SALVAÇÃO DA LAVOURA

São animadores os números da safra de grãos do Brasil, que deverá colher neste ano o recorde histórico de 120 milhões de toneladas. Com isso, o país deverá tornar-se o maior exportador mundial de soja, suplantando os Estados Unidos. Estudo das Nações Unidas prevê que o Brasil candidata-se a assumir, em 12 anos, o posto de maior produtor mundial de alimentos. O salto de 24% na produção de grãos em relação ao ano passado encena um solitário espetáculo de crescimento em contraste com o cenário de retração econômica e más notícias do setor produtivo.
O agronegócio brasileiro tem sido um caso auspicioso de investimentos e avanços tecnológicos que o colocam em patamares de produtividade extremamente competitivos no cenário internacional. Esse esforço foi estimulado, mais recentemente, por uma situação cambial favorável, que consolidou o setor agroexportador como uma grande ilha de expansão. O saldo comercial do agronegócio foi de US$ 23 bilhões nos 12 meses terminados em maio.
Curiosamente, a boa notícia da agricultura vem a público simultaneamente ao recrudescimento das mobilizações do MST, com novas invasões de terra e forte pressão sobre o governo e as instituições. A convivência de um setor altamente capacitado e produtivo com realidades fundiárias atrasadas e massas de trabalhadores rurais desempregados evidencia as contradições do campo brasileiro -ao mesmo tempo em que sugere algumas reflexões.
A idéia, difundida por alguns, de que a reforma agrária baseada na criação de assentamentos e distribuição de lotes teria um impacto decisivo no futuro da produção de alimentos vai ficando cada vez mais distante da realidade.
Se a pequena propriedade e o cooperativismo familiar podem vir a ter importância econômica, ela parece estar mais vinculada a efeitos indiretos do que propriamente a uma mudança mais significativa na produtividade rural. Nesse sentido, a reforma agrária contribuiria especialmente para a fixação de populações rurais no campo, para a melhoria de suas condições de vida e de seu poder de compra, com reflexos no mercado interno e na redução das pressões migratórias sobre as grandes cidades. Seria uma importante conquista democrática, mais do que um grande avanço econômico.
A realidade do agronegócio evidencia que a produção de alimentos no país já encontrou seu motor -e ele move-se em ritmo acelerado. Cabe ao governo, diante de resultados tão significativos, não descurar das condições capazes de manter as exportações agrícolas competitivas.
É preciso estar atento, como observou o ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, aos riscos de uma "crise de abundância". O agricultor precisa ter perspectivas asseguradas de escoamento da colheita para que se evite um recuo no plantio. Não fosse o desempenho da atividade exportadora, a economia brasileira estaria não apenas exposta a maior vulnerabilidade externa como a níveis de retração ainda mais preocupantes do que os atuais.


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