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CLÓVIS ROSSI
O crime e as atitudes
MADRI - O presidente da República descobriu a pólvora, como é de
seu costume. "Temos de tomar atitudes", declarou todo solene em
Salvador, a propósito da nova onda
de ataques em São Paulo.
Sim, cara pálida, temos. Mas faz
ao menos 20 anos que atitudes deveriam ter sido tomadas por sucessivos governos, inclusive aqueles
comandados por gente que agora é
sua aliada incondicional desde
criancinha, caso de José Sarney.
Mas se o Maranhão, feudo dos
Sarney há meio século, está sob ataque do beribéri, mal do século 19, o
que se pode esperar desse pessoal?
Se respondeu nada, acertou.
Vale idêntica resposta para os
que foram governo a vida inteira e
agora estão na oposição a Lula, caso
de Cláudio Lembo, governador de
São Paulo.
Lembro-me de que, na sabatina
que a Folha fez com ele logo após a
primeira onda de ataques, estava
todo cheio de pose, ao contrário do
habitual, certo de que "sua" polícia
(ele é que usou essa expressão, tomando posse do que não é dele) era
dona da situação.
Vê-se agora que não é. Chegou-se
ao inacreditável ponto de se criar
um "SOS telefônico" para que
agentes do Estado peçam proteção
ao Estado quando ameaçados pelos
criminosos que o Estado não consegue detectar nem muito menos
prender.
A falta de atitude de TODOS os
governantes dos últimos 20 ou 25
anos levou a uma situação em que
polícia tem medo de bandido, mas
bandido não teme a polícia. Acaba
qualquer vestígio de vida civilizada.
São Paulo (o Estado, não só a cidade) está sitiado pelo crime. No Rio,
candidatos ao governo do Estado
precisam de licença dos criminosos
para fazer campanha em certas
áreas.
Pois é, presidente, passou da hora de tomar atitudes. Tome-as. Se
souber quais. Duvido.
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