São Paulo, sexta-feira, 13 de julho de 2007

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JOSÉ SARNEY

Pan-Pan-Pan

EU NÃO SOU grande autoridade para falar de esportes, pois, afinal, nunca fui desportista. Quando estava no ginásio tive uma única irrupção de atletismo. Tornei-me torcedor do Flamengo e fazia corrida, naquele tempo chamada de "atlética". Logo percebi que aquele não era o meu chão e, em vez de correr, deu-me praticar o esporte de ler. Pouco a pouco fui deixando de ouvir os jogos nos velhos rádios cheios de chiados, que chamávamos "descargas", e que impediam a compreensão do que era transmitido. E por falar em "descargas", lembro o primeiro rádio que chegou em Pinheiro, comprado pelo farmacêutico José Alvim.
Fundou-se na cidade o Clube do Rádio, que ficava na janela da Farmácia Paz, do José Alvim. Reunia-se três vezes por semana. Numa delas, as "descargas" eram tantas que houve um protesto geral, grandes reclamações de que não se ouvia nada. Irritado, José Alvim levantou-se, pegou o rádio, levou-o para dentro de casa e anunciou: "Tá fechado o Clube do Rádio".
Era o tempo da Segunda Guerra Mundial. E os assistentes, quando ouviam as estáticas perturbadoras, eram alertados por José Alvim: "Está chovendo na Bahia ou é tiro de alemão. Não passa nada". O certo é que essas "descargas" fecharam o Clube do Rádio de Pinheiro e meu gosto pelo futebol. Hoje, a televisão nos mostra tudo, a voz limpa registra todas as tonalidades, detalhes, cores e gafes. Acompanhamos o salto da Daiane e o seu pezinho de campeã.
Outra maravilha é o salto ornamental das meninas nas piscinas e as voltas e revoltas nas barras e nos cavalos. Tudo é beleza, e a maior delas vem do esforço do corpo para superar-se em busca do recorde e da perfeição.
O Rio está excitado na espera por estes dias. As festas de abertura prometem ser iguais àquelas que marcavam as Olimpíadas em homenagem a Zeus, até as últimas mundiais de Atenas, com aquela combinação de cores e luzes nas velhas ruínas. O tiroteio nas favelas e os perigos da Linha Vermelha estarão em estado de esquecimento temeroso. Mas o Cristo Redentor, agora como uma das maravilhas do mundo, com o peito coberto por uma faixa do Ibama em greve, vai zelar por todos.
O Pan chegou em boa hora de estresse nacional, e esperamos que seja um veranico carioca, férias alegres e tudo o esplendor do sol, areia e mar. É necessário lembrar, como dizia o nosso sempre citado Ascenso Ferreira, que "ninguém é de ferro". Assim venha o Pan-Pan-Pan e nós e nossos atletas seguiremos o conselho de dona Marta: relaxar etc. e tal.

jose-sarney@uol.com.br

JOSÉ SARNEY escreve às sextas-feiras nesta coluna.


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