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JOSÉ SARNEY
Pan-Pan-Pan
EU NÃO SOU grande autoridade para falar de esportes, pois,
afinal, nunca fui desportista.
Quando estava no ginásio tive uma
única irrupção de atletismo. Tornei-me torcedor do Flamengo e fazia corrida, naquele tempo chamada de "atlética". Logo percebi que
aquele não era o meu chão e, em
vez de correr, deu-me praticar o esporte de ler. Pouco a pouco fui deixando de ouvir os jogos nos velhos
rádios cheios de chiados, que chamávamos "descargas", e que impediam a compreensão do que era
transmitido. E por falar em "descargas", lembro o primeiro rádio
que chegou em Pinheiro, comprado pelo farmacêutico José Alvim.
Fundou-se na cidade o Clube do
Rádio, que ficava na janela da Farmácia Paz, do José Alvim. Reunia-se três vezes por semana. Numa
delas, as "descargas" eram tantas
que houve um protesto geral, grandes reclamações de que não se ouvia nada. Irritado, José Alvim levantou-se, pegou o rádio, levou-o
para dentro de casa e anunciou:
"Tá fechado o Clube do Rádio".
Era o tempo da Segunda Guerra
Mundial. E os assistentes, quando
ouviam as estáticas perturbadoras,
eram alertados por José Alvim:
"Está chovendo na Bahia ou é tiro
de alemão. Não passa nada". O certo é que essas "descargas" fecharam o Clube do Rádio de Pinheiro e
meu gosto pelo futebol.
Hoje, a televisão nos mostra tudo, a voz limpa registra todas as tonalidades, detalhes, cores e gafes.
Acompanhamos o salto da Daiane
e o seu pezinho de campeã.
Outra maravilha é o salto ornamental das meninas nas piscinas e
as voltas e revoltas nas barras e nos
cavalos. Tudo é beleza, e a maior
delas vem do esforço do corpo para
superar-se em busca do recorde e
da perfeição.
O Rio está excitado na espera por
estes dias. As festas de abertura
prometem ser iguais àquelas que
marcavam as Olimpíadas em homenagem a Zeus, até as últimas
mundiais de Atenas, com aquela
combinação de cores e luzes nas
velhas ruínas. O tiroteio nas favelas
e os perigos da Linha Vermelha estarão em estado de esquecimento
temeroso. Mas o Cristo Redentor,
agora como uma das maravilhas do
mundo, com o peito coberto por
uma faixa do Ibama em greve, vai
zelar por todos.
O Pan chegou em boa hora de estresse nacional, e esperamos que
seja um veranico carioca, férias
alegres e tudo o esplendor do sol,
areia e mar.
É necessário lembrar, como dizia
o nosso sempre citado Ascenso
Ferreira, que "ninguém é de ferro".
Assim venha o Pan-Pan-Pan e nós
e nossos atletas seguiremos o conselho de dona Marta: relaxar etc. e
tal.
jose-sarney@uol.com.br
JOSÉ SARNEY escreve às sextas-feiras nesta coluna.
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