São Paulo, sexta-feira, 13 de agosto de 2004

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CLÓVIS ROSSI

Chantagem

SÃO PAULO - Chantagem. Não há outra palavra que não essa para designar o comportamento dos deputados petistas José Mentor e Eduardo Valverde se verdadeiro o diálogo captado pela TV Senado.
Os dois discutem retaliação (chantagem, em português claro e correto) para a eventualidade de convocação para depoimento de Roberto Teixeira, compadre do presidente da República e amigo de Mentor.
Ou, posto de outra forma, não discutem se há ou não razões para chamar Teixeira nem se há ou não razões para convocar tucanos como retaliação. Discutem como evitar, via chantagem, que um "amigo" preste depoimento. Além de chantagem, compadrio.
Tal comportamento é de causar indignação, mas não surpresa. Faz parte da mais completa transformação sofrida por um partido em tão curto tempo na história política do planeta. O PT jogou no lixo a sua história, não tem o que pôr no lugar e passa então a recorrer à chantagem e ao compadrio.
Se é assim, a proposta de "flexibilização" do sigilo fiscal, em estudo no governo, só pode causar arrepios de pânico. Já imaginou o potencial de "retaliação" que dados do gênero permitirão aos governistas?
Para fechar o círculo da transformação do PT, vem Luiz Gushiken (Comunicação e Gestão Estratégica) com uma frase que soa a um tristemente célebre conceito da ditadura (o de "democracia relativa"). Para defender uma liberdade relativa da imprensa, Gushiken filosofa que nada na vida é absoluto.
Há, sim, coisas absolutas na vida. Democracia é uma delas. Ou é democracia sem qualificativos ou não é democracia, conforme, aliás, o PT defendia até virar governo.
E liberdade de imprensa é parte integrante das liberdades que formam a democracia. Relativizar uma é relativizar a outra.


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