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ELIANE CANTANHÊDE
Investigação zero
BRASÍLIA - A economia dá boas notícias, Lula cresce dez pontos nas pesquisas, Marta Suplicy conquista a
dianteira da eleição em São Paulo.
E como o governo comemora?
Anunciando uma autarquia para
"orientar, disciplinar e fiscalizar" a
atividade dos jornalistas e, agora, um
decreto para controlar o acesso da
imprensa a informações de funcionários envolvidos em investigações.
Não chega a ser surpresa. O governo já vinha defendendo a "lei da
mordaça" para calar procuradores
incômodos. E, afinal, sabe muito bem
do que funcionários petistas de ministérios e estatais são capazes. Eles
têm acesso a informações, estão carecas de saber que sem a imprensa nenhuma investigação anda e saem por
aí distribuindo a papelada.
Fizeram isso durante anos e anos,
com a cumplicidade da cúpula do
partido. Agora, já não servem mais
para o bem da pátria, das instituições
e da moralidade pública. Como o
mundo dá voltas: o que era "do bem"
virou uma ameaça "do mal". A não
ser que o alvo não seja os funcionários petistas, mas os outros. Quem sabe os do PPS no Banco do Brasil? Ou
os do PFL na CEF? Ou os do PSDB na
Esplanada dos Ministérios?
Do jeito que a coisa vai, nem as
CPIs vão resistir. Elas já derrubaram
um presidente, revelaram o juiz Lalau ao mundo e cassaram o primeiro
senador da República e vários outros
parlamentares por suspeita de desvios, mas correm o risco de cair, no
mínimo, no ridículo.
Com o petista José Mentor e o tucano Antero Paes de Barros, a CPI do
Banestado deixou de ser coisa séria
para virar palco de disputas menores
e dos maiores absurdos, como a quebra de sigilos a torto e a direito, sabe-se lá com que finalidade.
Enfim, as coisas estão no seguinte
pé: os procuradores não devem procurar, os repórteres não devem reportar, os funcionários investigativos
não devem funcionar. E já não se fazem CPIs como antes.
Desse jeito, o governo do PT vai para o paraíso sem freios e contrapesos
que todo governo pede a Deus.
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