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EFEITOS DO TARIFAÇO
O índice de inflação da Fipe, no começo de agosto, superou 1% e deve
ficar, no mês, em torno disso. O reajuste de combustíveis e tarifas públicas é o principal fator da alta. Mas há
pressão inflacionária também em
áreas como alimentos, passagens aéreas (cujas promoções foram suspensas pelas empresas) e habitação.
Dificilmente essa alta de preços dará margem a uma tendência inflacionária mais duradoura. Decerto várias
empresas podem tentar repassar aumentos de custo nos próximos meses. Mas a inflação gerada pelo tarifaço corrói os salários, o que limita as
vendas, a produção e o espaço para
tais repasses. Outro efeito da inflação
mais alta, quando os gastos públicos
não são corrigidos, é facilitar o ajuste
de curto prazo das contas públicas.
Ao mesmo tempo, tem ocorrido
uma elevação na arrecadação de impostos, que foi em julho recorde histórico. Foram transferidos ao Tesouro R$ 13,3 bilhões no mês passado,
R$ 81,5 bilhões neste ano, uma alta
de 7,11% em comparação com 1998.
A soma dos efeitos do tarifaço, da
redução no valor real do gasto público e da elevação na arrecadação é
uma significativa transferência de
renda da sociedade para o governo.
Mas tais recursos ainda não bastam
para equilibrar as contas públicas. E é
notória a insuficiência quantitativa e
qualitativa dos serviços públicos.
Trata-se, pois, de ajuste de má qualidade. A pretexto de diminuir o déficit público criam-se ineficiências para o setor privado, o que dificulta a
criação de empregos e o crescimento
e, assim, aumenta a iniquidade social
e o desconforto político. Portanto é
legítimo perguntar se está em curso
um autêntico ajuste do setor público,
como proclama o governo e propõe o
FMI. Ou se, na prática, como tem sido a regra no país, ocorre o mero
agravamento de conflitos sociais e
políticos, levando a um lamentável
adiamento de soluções duradouras.
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