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SAÍDA MULTILATERAL
Teve tom imperial o discurso
de George W. Bush na Assembléia Geral da ONU ontem. O presidente norte-americano praticamente exigiu que as Nações Unidas tomem
uma atitude contra o Iraque. Bush dificilmente poderia ser mais claro:
"Os propósitos dos EUA não devem
ser postos em dúvida. As resoluções
do Conselho de Segurança serão implementadas (...) ou a ação será inevitável. E o regime que perdeu a legitimidade perderá também o poder".
Muitas das acusações que os EUA
fazem contra o Iraque procedem. Há
evidências de que Bagdá mantém
programas de desenvolvimento de
armas nucleares e biológicas. É certo
que possui arsenais químicos, armamento que, aliás, já utilizou contra o
Irã e contra sua própria população
curda nos anos 80, quando recebia
armas e apoio logístico dos EUA. É
também um fato que Saddam Hussein persegue implacavelmente seus
opositores. E, como Bush bem salientou, o Iraque vem, desde 1991,
através de todo tipo de falsas promessas e artifícios, ludibriando a
ONU e seus inspetores de armas.
Mesmo considerando esse nada
abonador histórico iraquiano, é um
erro engajar-se em uma nova guerra
contra o Iraque sem esgotar todas as
possibilidades de encontrar uma solução negociada. Como observou o
presidente francês, Jacques Chirac,
todos desejamos ver Saddam Hussein deposto, mas a política externa
deve ser feita "com alguns princípios
e um pouco de ordem".
Por "alguns princípios" deve-se entender que a ONU não pode emprestar sua autoridade para a promoção
de golpes de Estado. Uma organização multilateral como as Nações
Unidas não pode ser instrumentalizada por países poderosos como os
EUA para revestir de legalidade interesses nem sempre confessáveis.
É legítimo e proveitoso que a comunidade internacional, por meio
do Conselho de Segurança, faça Saddam Hussein cumprir o que ficou
determinado após a rendição do Iraque na Guerra do Golfo. A ONU deve
lançar um ultimato para que Bagdá
aceite a volta dos inspetores de armas
de destruição em massa. Se Saddam
Hussein, mais uma vez, furtar-se a
esse compromisso, então, e só então, as Nações Unidas devem chancelar o recurso à força.
Saddam Hussein é um tirano sanguinário, mas está longe de ser o único dirigente nessa categoria. Se é lícito derrubá-lo, como quer Bush, o
mesmo tratamento deveria ser estendido a vários outros líderes, cujos regimes preenchem os mesmos requisitos. É algo que os EUA não parecem muito ansiosos por fazer.
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