São Paulo, sexta-feira, 13 de setembro de 2002

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O PT OBSCURO

Os paladinos da ética e da transparência durante as gestões de Paulo Maluf e Celso Pitta parece que mudaram de posição tão logo assumiram o Executivo da cidade de São Paulo. Vereadores e outras lideranças do PT subvertem a lógica, o bom senso e o que pregaram num passado recentíssimo para criar a teoria do "sigilo parlamentar".
A aberração teve início com uma atitude de José Mentor, ex-líder do governo Marta Suplicy na Câmara. Na calada da noite, segundo relato de seu correligionário Nabil Bonduki, Mentor impôs modificações ao substitutivo do Plano Diretor que alteravam o zoneamento. Além de a discussão sobre zoneamento ser alheia aos objetivos do plano e de as mudanças não terem sido debatidas com os interessados diretos, as emendas eram anônimas -seus autores não foram identificados.
Mentor então saiu-se com a pérola de que havia um pacto para que os responsáveis pelas emendas ficassem no anonimato. A despeito de tratar como otários os cidadãos em geral e em especial os que ajudaram a eleger os misteriosos autores das emendas, Mentor parece ter "superado" a fase oposicionista do PT. Em 2000, ainda no governo Pitta, os vereadores petistas se revoltaram contra o instituto do voto secreto em sessões de cassação de vereadores e impeachment de prefeito. Empreenderam uma campanha para dar mais transparência à casa. José Eduardo Cardozo, hoje presidente da Câmara, então dizia: "O vereador não pode se esconder atrás do anonimato."
Mas Mentor, ao que consta, não está sozinho na revisão de paradigmas éticos do PT. O presidente estadual do partido, Paulo Frateschi, também se tornou um novo adepto da teoria do sigilo parlamentar, fazendo analogia com processos sigilosos do Ministério Público: "O promotor não faz processo sob segredo? Cada situação, cada órgão, tem a sua maneira de ser. É assim que se faz política."
Lideranças do PT estão, ao que parece, informando os eleitores sobre a sua nova maneira de fazer política. O "partido da transparência" ameaça transitar para a defesa e o exercício do segredo na política.



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