São Paulo, domingo, 13 de outubro de 2002

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A LARGADA

Não há propriamente surpresa nos resultados da pesquisa Datafolha para a Presidência que este jornal publica hoje. Tendo ficado próximo da vitória já no domingo, tendo obtido o dobro de votos do segundo colocado e tendo permanecido na semana que passou em plena exposição na mídia, era de esperar que a primeira pesquisa indicasse o candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, bem à frente do presidenciável do PSDB, José Serra.
Talvez a magnitude da distância entre os dois, de 26 pontos percentuais, tenha ficado algo além do que uma parte dos analistas previa. Mas nem o mais apaixonado eleitor de Serra esperava que o seu candidato figurasse a uma distância pequena de Lula na primeira sondagem.
O Datafolha mostra o retrato do cacife eleitoral que cada presidenciável tem na saída de uma corrida curta, mas densa do ponto de vista político. Nessa corrida, o candidato do PT pode até perder parte de seu cacife e, ainda assim, permanecer com chances de vitória. Mas isso não quer dizer que está descartada a hipótese de José Serra ultrapassar Lula. Para vencer, o tucano terá que anular, em duas semanas, uma vantagem da ordem de 24 milhões de votos.
A tarefa é difícil, porém não é impossível. Nos próximos 12 dias, haverá 24 sessões de propaganda no rádio e na TV nas quais cada candidatura contará com 10 minutos. Além disso, a lamentável recusa do PT em expor o seu candidato a mais debates e a indagações mais críticas pode associar uma imagem negativa a Lula. Segundo o Datafolha, 74% dos eleitores julgam ser muito importante a realização de debates entre Lula e Serra. A propósito do conteúdo dos programas, é provável que a campanha de Serra parta definitivamente para o ataque contra Lula e o PT, mesmo correndo o risco de ver aumentada a rejeição ao tucano.
Já do lado do petista, a necessidade de administrar o seu cacife de intenções de voto deve levar a campanha a evitar ainda mais o confronto.
Lula parece comportar-se como se eleito estivesse. Grande parte dos analistas, dos empresários e da mídia internacional também trata as eleições brasileiras como se ela já estivesse encerrada com a vitória do PT. Mas o fato inequívoco é que nada ainda está decidido. Grandes viradas na política brasileira já ocorreram no passado recente. Em vez de tratar o resultado das eleições como favas contadas, cabe esperar o desenrolar do jogo, pois ainda há lances decisivos a serem jogados.



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