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Cada um por si
Impasse na reunião do FMI indica que Brasil irá adotar novas medidas de restrição à entrada de dólares, em resposta à política dos EUA
A reunião anual do FMI (Fundo
Monetário Internacional), ocorrida no último fim de semana em
Washington, terminou sem grandes avanços na cooperação econômica global. A questão das taxas de câmbio -ou da "guerra de
moedas"- foi o principal tema
das discussões, que permaneceram inconclusivas.
De um lado, os EUA e Europa
consideram, com razão, que a intransigência da China em aceitar a
valorização de sua moeda, como
forma de reduzir o superavit comercial e redirecionar a economia
para o consumo interno, é um importante obstáculo para o funcionamento ordenado da economia
internacional.
Com feições obviamente mercantilistas, a politica cambial chinesa é concebida para favorecer
as exportações do país em prejuízo dos parceiros comerciais. Além
disso, ao acumular cada vez mais
reservas internacionais, que já ultrapassam US$ 2,5 trilhões, a
maior parte em dólares, a China
ajuda a valorizar a moeda americana -contrariando os interesses
dos EUA neste momento.
Os chineses argumentam que a
política monetária expansionista
dos EUA, com aumento de emissão de moeda e taxa de juros zero,
direciona uma enxurrada de dinheiro para outros países -o que
causa instabilidade nos fluxos de
capitais, alimenta elevação de
preço das commodities e cria riscos de bolhas financeiras. Os americanos sabem perfeitamente disso -e não escondem que um dos
objetivos de sua política é desvalorizar o dólar, em busca de efeitos
favoráveis às suas empresas e às
suas exportações.
Outros países em desenvolvimento, entre os quais o Brasil, se
veem atingidos pelos dois lados.
Têm menos instrumentos para
evitar a valorização de suas moedas e -alinhados aos EUA- se
queixam da linha cambial chinesa. Mas também são prejudicados
pelas dificuldades de administrar
o aumento da entrada de dólares
decorrente das medidas defendidas pelos norte-americanos.
Adicione-se a este caldeirão o
crescimento desbalanceado entre
os diversos países, com divergência cada vez mais clara entre a lenta retomada no mundo rico e o dinamismo dos emergentes, e é fácil
perceber as dificuldades de se
chegar a um entendimento.
O que se viu no encontro do FMI
foi um ambiente marcado pela política do "cada um por si" em defesa de seus interesses -o que aumenta as incertezas sobre o futuro
da economia mundial.
Os EUA, premidos por deficit
fiscal elevadíssimo, não têm outra
ferramenta além da expansão monetária para estimular sua economia. E os chineses não deram nenhum sinal de que aceitarão valorizar o yuan em ritmo mais rápido
que 3% a 5% ao ano. Aos demais,
restará minimizar os danos com
mais controles e intervenções nos
mercados de câmbio.
No caso brasileiro, as dificuldades são relevantes. A maior liquidez global pode aumentar a inflação, ao mesmo tempo que uma
política de juros mais altos, para
combatê-la, atrairia mais recursos
externos. Provavelmente serão
inevitáveis novas medidas restritivas à entrada de capitais -como
já deu a entender o presidente do
Banco Central.
Apesar das dificuldades em
Washington, as chances de que se
chegue a algum tipo de coordenação ainda não foram afastadas.
Numa perspectiva otimista, há
tempo para costurar propostas de
acordos com vistas à próxima reunião do G20, em novembro. É difícil no entanto crer que os atuais
desequilíbrios da economia mundial serão corrigidos de maneira
rápida e harmoniosa.
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