São Paulo, quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Editoriais

editoriais@uol.com.br

Cada um por si

Impasse na reunião do FMI indica que Brasil irá adotar novas medidas de restrição à entrada de dólares, em resposta à política dos EUA

A reunião anual do FMI (Fundo Monetário Internacional), ocorrida no último fim de semana em Washington, terminou sem grandes avanços na cooperação econômica global. A questão das taxas de câmbio -ou da "guerra de moedas"- foi o principal tema das discussões, que permaneceram inconclusivas.
De um lado, os EUA e Europa consideram, com razão, que a intransigência da China em aceitar a valorização de sua moeda, como forma de reduzir o superavit comercial e redirecionar a economia para o consumo interno, é um importante obstáculo para o funcionamento ordenado da economia internacional.
Com feições obviamente mercantilistas, a politica cambial chinesa é concebida para favorecer as exportações do país em prejuízo dos parceiros comerciais. Além disso, ao acumular cada vez mais reservas internacionais, que já ultrapassam US$ 2,5 trilhões, a maior parte em dólares, a China ajuda a valorizar a moeda americana -contrariando os interesses dos EUA neste momento.
Os chineses argumentam que a política monetária expansionista dos EUA, com aumento de emissão de moeda e taxa de juros zero, direciona uma enxurrada de dinheiro para outros países -o que causa instabilidade nos fluxos de capitais, alimenta elevação de preço das commodities e cria riscos de bolhas financeiras. Os americanos sabem perfeitamente disso -e não escondem que um dos objetivos de sua política é desvalorizar o dólar, em busca de efeitos favoráveis às suas empresas e às suas exportações.
Outros países em desenvolvimento, entre os quais o Brasil, se veem atingidos pelos dois lados. Têm menos instrumentos para evitar a valorização de suas moedas e -alinhados aos EUA- se queixam da linha cambial chinesa. Mas também são prejudicados pelas dificuldades de administrar o aumento da entrada de dólares decorrente das medidas defendidas pelos norte-americanos.
Adicione-se a este caldeirão o crescimento desbalanceado entre os diversos países, com divergência cada vez mais clara entre a lenta retomada no mundo rico e o dinamismo dos emergentes, e é fácil perceber as dificuldades de se chegar a um entendimento.
O que se viu no encontro do FMI foi um ambiente marcado pela política do "cada um por si" em defesa de seus interesses -o que aumenta as incertezas sobre o futuro da economia mundial.
Os EUA, premidos por deficit fiscal elevadíssimo, não têm outra ferramenta além da expansão monetária para estimular sua economia. E os chineses não deram nenhum sinal de que aceitarão valorizar o yuan em ritmo mais rápido que 3% a 5% ao ano. Aos demais, restará minimizar os danos com mais controles e intervenções nos mercados de câmbio.
No caso brasileiro, as dificuldades são relevantes. A maior liquidez global pode aumentar a inflação, ao mesmo tempo que uma política de juros mais altos, para combatê-la, atrairia mais recursos externos. Provavelmente serão inevitáveis novas medidas restritivas à entrada de capitais -como já deu a entender o presidente do Banco Central.
Apesar das dificuldades em Washington, as chances de que se chegue a algum tipo de coordenação ainda não foram afastadas. Numa perspectiva otimista, há tempo para costurar propostas de acordos com vistas à próxima reunião do G20, em novembro. É difícil no entanto crer que os atuais desequilíbrios da economia mundial serão corrigidos de maneira rápida e harmoniosa.


Próximo Texto: Editoriais: Os males dos Correios

Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.