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CLÓVIS ROSSI
Muito além da Antártida
BRUXELAS - Lembra-se de quando Robert Zoellick, o responsável pelo
comércio exterior norte-americano,
disse que o Brasil tinha de escolher
entre a Alca e a Antártida? Ou seja,
entre se abrir para os EUA ou vender
apenas para os pinguins?
Lembra-se também de que o então
candidato Luiz Inácio Lula da Silva
respondeu chamando Zoellick de
"sub do sub do sub" (coisa que, definitivamente, Zoellick não é)?
Bom, se o governo do PT não tivesse
se acovardado tanto, poderia agora
dizer que a Antártida não é a única
alternativa de comércio para o Brasil
e para seus sócios do Mercosul. A
União Européia revelou ontem, durante a reunião ministerial com o
pessoal do Mercosul, uma disposição
renovada para chegar a um acordo
comercial que, se de fato concluído,
representaria a criação da maior
área de livre comércio do planeta.
"Ninguém deveria subestimar a
importância que atribuímos à conclusão de um ambicioso acordo com
o Mercosul", chegou a dizer Chris
Patten, comissário para Assuntos Externos (uma espécie de ministro do
Exterior da União Européia).
Claro que há um imenso trecho a
percorrer entre um acordo concreto e
frases grandiloquentes ou promessas
menos grandiloqüentes de pôr sobre
a mesa de negociação a delicada
questão agrícola. Mas, de todo modo,
a perspectiva de um entendimento
está no horizonte. É melhor do que
negociar com a Antártida, mas não
deve servir para festejos. O ano de
2004 será particularmente agudo em
matéria de negociações comerciais e
políticas para o Mercosul.
Já em janeiro, haverá uma nova
Cúpula das Américas, que não é uma
reunião propriamente comercial,
mas acaba contaminada por esta.
Em maio, a cúpula será com os europeus, no bojo da reunião mais ampla
entre a União Européia, já ampliada
para 25 membros, e os países da
América Latina e do Caribe.
Suspeito de que o interesse brasileiro vá estar muito mais em jogo nessas
negociações do que no entendimento
com o PMDB para oferecer-lhe cargos no governo.
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