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São Paulo, quinta-feira, 13 de novembro de 2003

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ELIANE CANTANHÊDE

As trapalhadas 2

BRASÍLIA - A gente vai para a África, a gente volta da África, e o governo continua fazendo trapalhadas.
Nas primeiras páginas de ontem, fotos de velhinhos na fila do INSS ao lado de textos sobre o veto de Lula à inclusão de entidades como as Apaes no cálculo de distribuição do Fundef aos Estados e municípios. Agora, mais essa: o senhor de 75 anos que morreu ontem no DF.
Sabe o que fica parecendo? Que o governo persegue anciãos e deficientes. E logo o governo do PT!
Evidentemente não é isso. É a soma de inexperiência com uma certa arrogância e um vago sentimento de que chegaram ao poder para moralizar e salvar o mundo. Aí, tudo pode.
Além disso, chegou a hora de o chefe da Casa Civil, José Dirceu, cumprir o que vem dizendo em conversas sobretudo com companheiros do PT: que não quer mais "pagar o mico" de ser chamado de todo-poderoso. Quando as coisas vão bem, uma delícia. Quando vão mal, nem tanto.
Nestas duas semanas, as coisas não estão nada maravilhosas, com o disse-não-disse de Lula e Palocci por causa do FMI, o vexame de Berzoini com os velhinhos e agora esse veto dos deficientes -e a opinião pública nem esqueceu ainda os cortes marotos nas verbas da Saúde.
Perguntar não ofende. Berzoini decidiu tudo sem ouvir Zé Dirceu? Os cortes da Saúde tiveram o crivo de Zé Dirceu? O veto dos deficientes passou ou não por Zé Dirceu? São todos assuntos delicados, que envolvem setores da população muito especiais. Têm, ou teriam, de forçosamente passar pela Casa Civil de qualquer governo.
A não ser, claro, que o todo-poderoso José Dirceu esteja muito ocupado com outras coisas, como as negociações das reformas, as votações do Congresso e a lengalenga da entrada ou não do PMDB no governo.
Por falta de aviso não foi. Ou bem Zé Dirceu é coordenador político ou bem é coordenador de governo. Senão, ou ele é não só todo-poderoso mas a encarnação do próprio Todo Poderoso. Ou então dá nisso: uma trapalhada atrás da outra.


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