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ELIANE CANTANHÊDE
As trapalhadas 2
BRASÍLIA - A gente vai para a África, a gente volta da África, e o governo
continua fazendo trapalhadas.
Nas primeiras páginas de ontem,
fotos de velhinhos na fila do INSS ao
lado de textos sobre o veto de Lula à
inclusão de entidades como as Apaes
no cálculo de distribuição do Fundef
aos Estados e municípios. Agora,
mais essa: o senhor de 75 anos que
morreu ontem no DF.
Sabe o que fica parecendo? Que o
governo persegue anciãos e deficientes. E logo o governo do PT!
Evidentemente não é isso. É a soma
de inexperiência com uma certa arrogância e um vago sentimento de
que chegaram ao poder para moralizar e salvar o mundo. Aí, tudo pode.
Além disso, chegou a hora de o chefe da Casa Civil, José Dirceu, cumprir
o que vem dizendo em conversas sobretudo com companheiros do PT:
que não quer mais "pagar o mico" de
ser chamado de todo-poderoso.
Quando as coisas vão bem, uma delícia. Quando vão mal, nem tanto.
Nestas duas semanas, as coisas não
estão nada maravilhosas, com o disse-não-disse de Lula e Palocci por
causa do FMI, o vexame de Berzoini
com os velhinhos e agora esse veto
dos deficientes -e a opinião pública
nem esqueceu ainda os cortes marotos nas verbas da Saúde.
Perguntar não ofende. Berzoini decidiu tudo sem ouvir Zé Dirceu? Os
cortes da Saúde tiveram o crivo de Zé
Dirceu? O veto dos deficientes passou
ou não por Zé Dirceu? São todos assuntos delicados, que envolvem setores da população muito especiais.
Têm, ou teriam, de forçosamente
passar pela Casa Civil de qualquer
governo.
A não ser, claro, que o todo-poderoso José Dirceu esteja muito ocupado
com outras coisas, como as negociações das reformas, as votações do
Congresso e a lengalenga da entrada
ou não do PMDB no governo.
Por falta de aviso não foi. Ou bem
Zé Dirceu é coordenador político ou
bem é coordenador de governo. Senão, ou ele é não só todo-poderoso
mas a encarnação do próprio Todo
Poderoso. Ou então dá nisso: uma
trapalhada atrás da outra.
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