São Paulo, quinta-feira, 13 de novembro de 2003 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES O agente da CIA
DENIS LERRER ROSENFIELD
3) que não é nenhum crime estudar e se preparar. Porém, na "neolíngua" petista, alguém peca por ser "aluno da pós-graduação da PUC-RS". De fato, é difícil compreender que um policial militar queira efetuar um curso de aperfeiçoamento; 4) que a Anpocs é a mais importante associação da área de ciências sociais no Brasil, sendo constituída das pessoas mais qualificadas. Ora, o convênio assinado entre a secretaria e essa associação é considerado "uma das maiores fraudes na produção de papel e poesia, com links para o direcionamento de linhas de crédito para pesquisas direcionadas a alguns amigos-consultores (ou seria consultores-amigos) de universidades, ONGs, centros de pesquisa etc.". Será que a ciência brasileira não merece respeito?; 5) que financiamentos internacionais fazem parte do modo de captação de recursos, aliás amplamente utilizado por outros ministérios, em especial o da Fazenda. E o acordo com o FMI que acaba de ser renovado? Por que, então, acusar a embaixada americana, senão por um antiamericanismo primário, próprio de cabeças comunistas?; 6) que a distribuição de recursos não deve obedecer a critérios partidários, mas técnicos, próprios de um governo desvinculado do partido. O "documento" afirma que a "Senasp tem se recusado a fazer um trabalho articulado, que concentre e aplique a captação de recursos internacionais em municípios compromissados com o PT e seus aliados preferenciais". De um lado, temos a crítica ao capital internacional, de outro, a exigência de que ele sirva ao partido se entrar no Brasil; 7) que certas linguagens podem ser perigosas ao anunciarem práticas totalitárias. Nessa perspectiva, Luiz Eduardo e assessores são considerados "pretensos galantes" que cometeram um "crime burguês". "Vaidosos, acharam-se muito inteligentes; no fundo, são os mesmos pequeno-burgueses" -de sempre, poderíamos acrescentar. Voltamos aos velhos refrães que caracterizam o dogmatismo, a escravidão do pensamento que prenuncia a da ação. Numa cabeça assim constituída, a democracia torna-se uma palavra vazia; 8) que a venda de "pérolas" falsas configura uma fraude. Na melhor linguagem comunista, de dignos herdeiros da ex-União Soviética, os autores escrevem que "o currículo que o governo brasileiro está difundindo na área de inteligência tem inegável contribuição (inclusive na parte dos conteúdos programáticos) da inteligência norte-americana (leia-se CIA)". Stálin deve estar se regozijando em sua tumba. Enfim, encontrou ele verdadeiros discípulos. Louvemos, então, o ato de coragem do governo ao se livrar, na figura de Luiz Eduardo Soares, de um perigoso agente da CIA! Será que os ministros envolvidos e o partido não têm nada a dizer? O silêncio ministerial não deixa de ser eloquente. Denis Lerrer Rosenfield, 52, doutor pela Universidade de Paris 1, é professor titular de filosofia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e editor da revista "Filosofia Política". Texto Anterior: Frases Próximo Texto: Valter Uzzo: Para além do balcão Índice |
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