São Paulo, quinta-feira, 13 de novembro de 2003 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES Para além do balcão
VALTER UZZO
Quem está na advocacia há muitos anos vê a profissão naufragar, e quem acaba de chegar ao mercado de trabalho vê-se diante de um labirinto que lhe parece impossível desvendar. Não há uma cura mágica para tudo isso, porque trata-se de uma crise -dentro de outra crise e dentro de outra ainda maior. O caminho está em alinhar a Ordem dos Advogados com firmeza na defesa da corporação e no ataque a todo esse conjunto de questões. É preciso uma defesa intransigente das prerrogativas, com ação imediata, por exemplo, contra juízes que prendem ilegalmente advogados -e não conceder um saudoso desagravo dois anos depois. No entanto tão importante como ter essa agilidade é ter a clareza de que é preciso remover as causas que geram esse tipo de incidente. Somente nos queixarmos das insuficiências dos serviços prestados nos cartórios não basta, porque a causa de tudo isso está muito além do balcão. Da mesma forma que não se pode mais admitir uma política de rapapés e salamaleques para com o Judiciário, é preciso pressionar mais para que este seja modernizado e receba equipamentos físicos e humanos suficientes para atuar. Assim como é preciso combater o inchaço da profissão com o exame de ordem, não podemos cair no exagero inverso de usá-lo como uma arma contra os novos bacharéis. A ordem precisa atuar no campo institucional para participar ativamente da reforma do Judiciário; impedir a proliferação de cursos jurídicos, exigindo a subordinação da criação de mais faculdades à disponibilidade de mercado de trabalho; barrar e reverter a tendência à solução extrajudicial dos conflitos e a consequente exclusão do advogado; gerar novos campos de mercado de trabalho; construir um suporte ativo ao advogado iniciante; bater com firmeza no caos forense e nas arbitrariedades cometidas. Se bem observarmos, os muitos problemas estão interligados. No entanto a dimensão das eleições para a direção da entidade, congregando quase 200 mil eleitores, dificulta a discussão mais aprofundada desses temas e favorece as campanhas baseadas em promessas simplistas e milagrosas. Transpor essa cortina de mágicas prometidas e concretizar uma escolha baseada na compreensão desses grandes temas é o desafio que se coloca ao eleitor neste pleito. E certamente a advocacia paulista conseguirá superar mais esse grande desafio. Valter Uzzo, 63, advogado, secretário-geral licenciado da OAB-SP, é candidato à presidência da entidade. Texto Anterior: TENDÊNCIAS/DEBATES Denis Lerrer Rosenfield: O agente da CIA Próximo Texto: Painel do leitor Índice |
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