São Paulo, terça-feira, 14 de janeiro de 2003 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES Mudança é a palavra-chave
LUCIANA GENRO
Os setores burgueses que aderiram a Lula querem o Estado ajudando a organizar o investimento capitalista, não como proprietário ou controlador -mas como indutor de tecnologia e crédito-, dando-lhes melhores condições de competir no mercado mundial. Por isso não têm nenhum interesse em acabar com o histórico arrocho salarial da classe trabalhadora, usado como fator de competitividade. Também não querem rupturas, mas a manutenção das políticas econômicas do governo FHC, especialmente os compromissos com o FMI. Esse é o caminho que o governo tem dito ser inevitável no período de transição. Mas, como o gato é escaldado, vale perguntar: Esta transição vai durar todo o governo? Ou nas palavras do sociólogo Francisco de Oliveira: "Na agenda da "transição" em direção a um pós-neoliberalismo, o programa para o trabalho somente comparece no registro do neodesenvolvimentismo. E o programa para a seguridade social permanece em brumas, mas sendo sugerida uma versão suave do sistema de capitalização e a derrogação dos "privilégios" do funcionalismo público. Comprou-se o discurso neoliberal ou ele já estava introjetado?" (Folha, A11, 29/12/2002). Tudo isso em nome de uma supostamente necessária credibilidade com os "mercados", sanguessugas que, há anos, repartem o butim enquanto o país vai à deriva. Que mudanças reais podem ser operadas enquanto não rompermos esse circulo vicioso? Melhorias pontuais podem ocorrer, mas a crise só será superada enfrentando interesses poderosos, o que é inviável por meio de um pacto social. A Venezuela nos mostra que as classes dominantes da América Latina não aceitam nem a independência dos países da região. Preferem ser sócias menores do imperialismo. Alguns citam a suposta "radicalização" de Chávez como exemplo que leva ao caos. É bom lembrar também de De La Rua, a oposição que quis virar governo sem mudar nada e foi punida pelo povo argentino. Chávez é ameaçado de golpe pelo que fez de correto -defender o petróleo-, mas tem o apoio dos pobres dos morros de Caracas, que desceram para defendê-lo em abril e estão dispostos a voltar à cena caso o presidente os convoque. Mas nenhuma dessas experiências deve ser imitada. O Brasil tem seus próprios caminhos, mas pode extrair delas conclusões estratégicas: romper com o capital financeiro é uma necessidade e, para isso, devemos nos preparar. Não devemos pensar que o FMI, o Banco Mundial ou a Casa Branca possam ser nossos aliados, pois isso só pavimentará um caminho de frustrações e derrotas. O Brasil pode liderar a América Latina na resistência à barbárie do capitalismo globalizado, construindo alianças com os governos e os povos dispostos a romper com o FMI e a defender a soberania do nosso continente. Devemos propor medidas que protejam o país dos especuladores, como a centralização do câmbio e o controle dos capitais, buscando o apoio da base social histórica de sustentação do PT, não fazer alianças que levam ao abandono dos compromissos que sempre nos guiaram. Luciana Genro, 32, é deputada federal eleita (PT-RS). Texto Anterior: TENDÊNCIAS/DEBATES José Goldemberg: A proteção ambiental em São Paulo Próximo Texto: Painel do leitor Índice |
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