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CARLOS HEITOR CONY
Governo folgazão
RIO DE JANEIRO - Abrindo espaço para o PMDB, o governo tem agora a
tranquilidade de uma compacta
maioria no Congresso. Não estou
muito por dentro dos números, mas
creio que a base de sustentação de
Lula seja praticamente inédita na vida republicana. Três por um, ou coisa
parecida. Poucos presidentes tiveram
tanta folga. Tem tudo para ser um
governo folgazão.
Apesar da vantagem, que custou ao
PT e em especial ao próprio Lula a
degustação forçada de diferentes sapos de todos os calibres, ele continua
na lengalenga de sempre, culpando a
oposição, os apetites inconfessáveis
dos maus brasileiros e, de quebra, a
mídia que não se rende aos encantos
do baronato petista.
O tempo e o capital de energia desperdiçados na operação ministerial
revelam por si sós que falta ao governo um tipo de ação que se ajuste ao
tradicional discurso com que o PT
chegou ao poder. Idéias gerais, justiça
social, honestidade no trato do dinheiro público, valorização do trabalho e boas relações com todos os povos do universo, inclusive a Líbia de
Gaddafi, podem funcionar em comícios eleitorais, em discursos à sobremesa de ágapes oficiais.
Procura-se uma frente de trabalho,
um canteiro de obras real e nada se
encontra. O Fome Zero, que já fez um
ano de piedosas intenções, depende
agora de o Frei Betto arranjar patrocínios, como um cineasta de talento e
teso que vai bater à porta das empresas privadas em busca de dinheiro
para elevar o padrão cultural do povo brasileiro.
Neste primeiro ano de mandato,
Lula pôde dispensar o apoio popular
que nunca lhe faltou, trocando-o pelos aplausos do FMI e dos investidores internacionais que consideram o
Brasil uma espécie de paraíso fiscal
legalizado.
Há lábia demais, tanto no presidente como nos hierarcas do PT, para
garantir que agora tudo dará certo.
Trocando um ministro que era do
PDT por um do PMDB, tudo estará
resolvido.
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