São Paulo, quarta-feira, 14 de janeiro de 2004

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CARLOS HEITOR CONY

Governo folgazão

RIO DE JANEIRO - Abrindo espaço para o PMDB, o governo tem agora a tranquilidade de uma compacta maioria no Congresso. Não estou muito por dentro dos números, mas creio que a base de sustentação de Lula seja praticamente inédita na vida republicana. Três por um, ou coisa parecida. Poucos presidentes tiveram tanta folga. Tem tudo para ser um governo folgazão.
Apesar da vantagem, que custou ao PT e em especial ao próprio Lula a degustação forçada de diferentes sapos de todos os calibres, ele continua na lengalenga de sempre, culpando a oposição, os apetites inconfessáveis dos maus brasileiros e, de quebra, a mídia que não se rende aos encantos do baronato petista.
O tempo e o capital de energia desperdiçados na operação ministerial revelam por si sós que falta ao governo um tipo de ação que se ajuste ao tradicional discurso com que o PT chegou ao poder. Idéias gerais, justiça social, honestidade no trato do dinheiro público, valorização do trabalho e boas relações com todos os povos do universo, inclusive a Líbia de Gaddafi, podem funcionar em comícios eleitorais, em discursos à sobremesa de ágapes oficiais.
Procura-se uma frente de trabalho, um canteiro de obras real e nada se encontra. O Fome Zero, que já fez um ano de piedosas intenções, depende agora de o Frei Betto arranjar patrocínios, como um cineasta de talento e teso que vai bater à porta das empresas privadas em busca de dinheiro para elevar o padrão cultural do povo brasileiro.
Neste primeiro ano de mandato, Lula pôde dispensar o apoio popular que nunca lhe faltou, trocando-o pelos aplausos do FMI e dos investidores internacionais que consideram o Brasil uma espécie de paraíso fiscal legalizado.
Há lábia demais, tanto no presidente como nos hierarcas do PT, para garantir que agora tudo dará certo. Trocando um ministro que era do PDT por um do PMDB, tudo estará resolvido.


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