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CARLOS HEITOR CONY
Ênio Silveira
RIO DE JANEIRO - São dez anos da morte de Ênio Silveira, o editor que
deu ao livro o formato que hoje conhecemos, com os naturais acréscimos de um mercado ao mesmo tempo exigente e complicado.
Para o pessoal do ramo editorial e
cultural, seria ocioso recordar o que
ele fez. Preso pelos militares, teve destruído o prédio de sua editora e cassados seus direitos políticos.
Quero lembrar a sua atuação nos
dias de 64 em diante, quando jogou
tudo o que tinha na luta contra o arbítrio. Ele ainda não havia entrado
para o Partidão, mas na sua editora
se costurava a primeira ação concreta (não armada) contra o regime. A
turma que, no "Correio da Manhã",
abrira o primeiro combate contra a
ditadura, desabou por gravidade na
Civilização Brasileira, da qual alguns
já eram editados, como Antônio Callado e eu próprio, vindo depois Paulo Francis.
Foi no gabinete de Ênio (mais tarde
na casa de uma prima dele) que Renato Archer costurou a Frente Ampla. Era ligado à editora Paz e Terra,
que funcionava como um dos selos
da Civilização. Ênio já entrara para
o PCB e os dois atraíram outro editor,
Carlos Lacerda, que seria, com Renato Archer, operador da Frente. Pretendia-se criar um poderoso bloco
contra o regime. (Neste ano, a editora
de Lacerda, a Nova Fronteira, está
fazendo 40 anos).
A Frente Ampla seria o espectro da
sociedade civil. Esquematicamente,
Lacerda seria a direita, Jango a esquerda e Juscelino o centro. Para que
os comunistas não atrapalhassem (o
PCB atrapalhou o que podia), Ênio
foi designado pelo Partidão para as
reuniões preparatórias com Renato
Archer. Os dois adversários, Ênio e
Lacerda, chegaram a se tornar amigos. Vi um chorando no ombro do
outro.
A Frente foi fechada, mas assustou
de tal forma os militares que, quando
houve um pretexto mais ou menos
banal, o discurso do Marcito na Câmara, o regime assumiu a truculência com o AI-5.
Daí em diante, a resistência só poderia ser a luta armada.
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