São Paulo, segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

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RICARDO YOUNG

Transposição de um doente

O rio Paraíba do Sul, espinha dorsal do Vale do Paraíba, cuja bacia abrange três Estados, 180 municípios e 5,5 milhões de habitantes, morre aos poucos. Suas águas, poluídas pelo despejo de um bilhão de litros de esgoto doméstico por dia e 150 toneladas de efluentes industriais, são castigadas ainda pelo assoreamento e pelos portos de areia clandestinos que se multiplicam pelas suas margens.
Triste rio Paraíba. Manancial quase inesgotável de recursos hídricos para a área mais antrópica do país, agoniza por descuido, ignorância e desprezo daqueles que dele se beneficiam.
A expedição SOS Rio Paraíba do Sul, coordenada por parlamentares paulistas e acompanhada por prefeitos, vereadores, autoridades estaduais e pelo CBH-PS, foi um raio de esperança.
A expedição navegou de Caçapava a Tremembé. Durante a jornada, foi possível observar a derrocada do rio. Margens castigadas pela erosão, assoreamento, águas turvas de poluição, esgotos clandestinos despejados e construções predatórias de portos de areia.
Entre as curvas do rio entreviam-se, no entanto, margens ainda saudáveis com mata ciliar abundante. Nesses poucos lugares, podíamos vislumbrar o que o Paraíba do Sul um dia foi e o que ainda poderá voltar a ser.
Assim, me pergunto, como ousam propor reduzir as APPs e as áreas de matas ciliares no projeto de alteração do Código Florestal? Quem nunca viu as feridas abertas nas barrancas de um rio, não tem ideia do que é esse crime ambiental.
Mata o rio e priva a gerações o acesso à água e à vida.
O governo do Estado quer resolver o problema de abastecimento de água da região metropolitana de São Paulo com a transposição de suas águas. Beira o cinismo essa proposta!
Além da transposição já existente abastecer 80% da região metropolitana, da conivência na devastação de suas matas ciliares, do assoreamento e dos efluentes industriais lançados em seu leito, os governos querem ainda ignorar as consequências nefastas de mais uma transposição?
Os nossos gestores, engenheiros públicos e empreiteiras precisam parar de pensar grande e começar a pensar direito. Não serão as grandes obras que corrigirão os desacertos e crimes cometidos contra o meio ambiente.
Serão novas tecnologias de captação de águas, permeabilização do solo, combate ao desperdício, racionalização do uso e conscientização profunda e em larga escala que trarão as soluções sustentáveis para os recursos hídricos.
São de novas tecnologias que precisamos e não de obras faraônicas que escamoteiam a verdadeira irresponsabilidade dos agentes públicos por décadas.

RICARDO YOUNG escreve às segundas-feiras nesta coluna


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