|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
A vingança tardia de Marx
CLÓVIS ROSSI
São Paulo - Os velhos marxistas passaram a vida esperando e torcendo pela "crise final do capitalismo". A crise
final do comunismo veio antes.
Mas, agora, podem experimentar
um tardio sabor de vingança. Se o capitalismo, "latu sensu", continua robusto e, o que é pior, sem alternativas
à vista, está explodindo a crise de uma
variante do capitalismo dada pela hegemonia do capitalismo financeiro sobre o produtivo.
Basta ler o que dizem expoentes nada marxistas dos dois lados do balcão.
"Precisamos estabelecer um novo sistema para estabilizar os mercados financeiros. Do contrário, a repetição
de crises após crises vai resultar em
um grande derretimento do sistema financeiro mundial", diz Eisuke Sakakibara, que, como responsável pelas finanças internacionais do Japão, é
quem defende a moeda do país.
"A tese de que o mercado tende a levar as coisas ao equilíbrio pode se
aplicar a bens e serviços comuns, mas
não funciona para mercados financeiros, que são inerentemente instáveis",
ecoa George Soros, cujo esporte favorito é atacar moedas.
Completa Gerhard Schroeder, o novo chanceler alemão: "Movimentos de
capital especulativo ajudaram a conduzir (...) economias nacionais inteiras à beira da ruína".
Todas essas frases foram pronunciadas em Davos, em encontros anuais do
Fórum Econômico Mundial, uma espécie de clube da elite planetária (a de
Soros é do ano passado, em debate de
que participou FHC).
É natural que o sociólogo mexicano
Jorge Castañeda, que este ano esteve
em Davos pela primeira vez (que eu
me lembre), tenha concluído: "Nos encontramos em pleno pós-neoliberalismo" (artigo para o jornal espanhol "El
País", publicado dia 10).
Pode até ser. Mas suspeito que estejamos, na verdade, em pleno pós-coisa-alguma, porque, se há consenso de
que a coisa está feia, não há um mínimo de consenso em torno do que pôr
no lugar de um sistema que Sakakibara vê em derretimento.
Texto Anterior: Editorial: REAÇÃO NEONACIONALISTA Próximo Texto: Brasília - Eliane Cantanhêde: Cadê a Lilian? Índice
|