São Paulo, Domingo, 14 de Fevereiro de 1999
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REAÇÃO NEONACIONALISTA

Começou a circular nos últimos dias a idéia de que estaria ganhando espaço no país algo como um neonacionalismo difuso. Assim como os termos globalização ou neoliberalismo, a expressão neonacionalismo é daquelas que, mal acabam de nascer, já se tornam clichês de uso fácil e irrefletido, tão ao gosto dos políticos. Ainda assim, não deixam de ser, na sua própria imprecisão e generalidade, um termômetro de um momento histórico ou de uma movimentação real na sociedade.
Esse neonacionalismo estaria exprimindo, em primeiro lugar, a insatisfação crescente da população com um governo que, desde o início, tomou o partido da internacionalização e apostou que a chance histórica do Brasil estaria na adesão à onda de reformas liberalizantes que varreu o mundo nas últimas décadas.
As incertezas em relação ao futuro do real e o fato de que o FMI tenha voltado a tutelar os rumos da política econômica brasileira acabaram por provocar atitudes reativas de índole nacionalista em parte da sociedade.
É lamentável no entanto que esse neonacionalismo esteja sendo de certa forma confundido e galvanizado por atos inconsequentes e arroubos verbais do governador de Minas, Itamar Franco, que procura dar à moratória que decretou tintas patrióticas e aspectos de resistência cívica.
O fato de que Itamar tente se transformar no líder da oposição ao governo central e de que o partido de oposição historicamente mais programático, o PT, esteja caminhando a reboque do governador mineiro revela a fragilidade desse oposicionismo. É bem possível, aliás, que Itamar acabe sendo vítima de sua própria estratégia e termine isolado no xadrez político como um personagem pouco mais que folclórico.
Ainda é cedo para sabê-lo, mas é um fato que o PT por ora ainda não conseguiu recuperar-se da crise de seus principais esteios. Energias utópicas, bandeiras políticas e bases sociais tradicionais de esquerda foram sendo varridas do mapa pelo avanço prático e ideológico de políticas liberais. Se estas agora dão sinais evidentes de cansaço, não significa que poderão ser substituídas por um movimento meramente reativo de tintas nacionalistas que, até agora, soa anacrônico e não mostrou nenhuma viabilidade prática ou política.
O país parece pois ter diante de si um antagonismo estéril entre a aposta redobrada do governo em compromissos liberais e uma reação nacionalista que, por ora, parece tão sólida quanto a folia do Carnaval.


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