São Paulo, Domingo, 14 de Fevereiro de 1999
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PAINEL DO LEITOR

Estranha globalização

"Às vezes acordo, leio o jornal e me pergunto: estou mesmo no Brasil? A empresa de telecomunicações não nos pertence mais. O fornecimento de energia elétrica, as decisões econômicas a serem tomadas e muitas outras coisas também não.
Detalhe: o serviço telefônico é cacofônico, o preço da energia elétrica sobe mais que o dólar e as decisões econômicas cada vez mais se mostram indecisas e submissas ao FMI.
Na verdade, o Brasil, que antes era terra de ninguém, agora não é de ninguém da terra. O Brasil é um país globalizado. Leia-se: pertence ao resto do globo."
Adriano Martins Ferreira (Araçatuba, SP)

Minas Gerais

"Itamar Franco merece uma execração pública pelo mal que vem fazendo ao país desde a infeliz declaração de moratória. Não satisfeito, veio com velada ameaça de rebelião.
Está na hora de impedir que ele fale e faça tanta besteira, prejudicando o país ainda mais neste momento de crise. O ego inflado de ex-presidente dificilmente aceita o honroso cargo de governador de um dos mais importantes estados da Federação."
Jadir Guilherme Fernandes (Vila Velha, ES)

"Gostaria de fazer algumas considerações a respeito do tratamento dado pela imprensa e por diversos jornalistas aos últimos acontecimentos envolvendo Minas e a atual crise brasileira. Desde a decretação da moratória do governo de Minas, vem-se adotando uma linha editorial que mais humilha, desrespeita e vilipendia todo o povo mineiro do que propriamente exerce uma visão crítica.
Ora, seria impraticável observar um dos preceitos mais caros do jornalismo, qual seja, ouvir o outro lado? Merece todo um povo ser atacado de forma jocosa, pejorativa, transformando-se esse povo em motivo de chacotas diversas por populações de outros Estados? Algum editor já pensou em investigar a real situação financeira de Minas Gerais, deixando de lado a infantil e repetitiva retórica de que "Minas não fez o dever de casa'?
Ricardo Jonusan (Belo Horizonte, MG)

País do Carnaval

"Aprecio e acompanho todo o esforço dessa grande atriz brasileira, Fernanda Montenegro, que realmente está fazendo com que o Brasil atravesse fronteiras.
Mas não posso compactuar com a posição dela quando entrevistada em um talk show americano, em que generalizou todo o esforço que o governo brasileiro vem fazendo para tentar conquistar novamente a imagem de um país sério resumindo-o a uma festa popular. Cabe lembrar que, na maior parte do país, a expressão cultural do Carnaval começa no sábado e termina na terça-feira, com a quase totalidade da população retornando às atividades na quarta-feira.
Os americanos riram e riram... Talvez por terem tido a certeza do que sempre pensaram sobre este país do Terceiro Mundo."
Luigi Gambirasio Junior (São Paulo, SP)

Reunião da SBPC

"No artigo "Os limites do governo" (pág. 1-3, Opinião, 12/2), o sr. Pinguelli Rosa diz que o ministro da Ciência e Tecnologia, Luiz Carlos Bresser Pereira, afirmou ter "o governo militar (...) impedido reunião da SBPC na Universidade Federal do Ceará".
Posso afirmar que o professor Oscar Sala, então presidente da SBPC, telefonou-me perguntando sobre a possibilidade de a reunião realizar-se na UnB porque não poderia ser feita na UFC.
Pedi-lhe que aguardasse na linha para saber se haveria condições administrativas, pois a reunião da SBPC ocorreria poucos dias depois. A resposta afirmativa foi dada na mesma ligação e a reunião se fez na UnB; não consultei ninguém no governo nem perguntei ao professor Sala por que não a realizava na USP. A história está mal contada: se tivesse havido a proibição, valeria para todas as universidades, e não apenas para a do remoto Ceará."
José Carlos de Almeida Azevedo, ex-reitor da Universidade de Brasília (Brasília, DF)

Impostos

"Num país onde quase nada que compramos nos pertence, vivemos para pagar impostos a fim de que possamos desfrutar dos bens adquiridos. Quando precisamos utilizar um "direito", enfrentamos filas e até mesmo sorteios, como por exemplo para conseguir uma vaga numa escola pública para as nossas crianças.
De que vale a infinidade de impostos que pagamos, se não para nos empobrecer ainda mais?"
Sandra Mara B. de Macedo (Ribeirão Preto, SP)

Universidades públicas

"Em relação à carta da presidente do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais), Maria Helena Guimarães de Castro, publicada no "Painel do Leitor" em 11/2, sobre nosso artigo abordando gastos com educação no Brasil, consideramos que:
a) A metodologia usada pela comunidade universitária e divulgada em nosso artigo baseia-se no conceito de "gastos correntes" definido pela Unesco, contemplando exclusivamente folha de pagamento e manutenção.
b) Os gastos em reais apontados pela missivista estão superestimados pelas razões já comentadas em nosso artigo.
c) Transformar os gastos para dólares usando o critério da PPA e não a taxa de câmbio usualmente adotada por todos é um exemplo de como o governo se dispõe a distorcer dados sempre que assim deseja."
Newton Lima, ex-reitor da UFSCar e ex-presidente da Andifes (Associação Nacional dos Dirigentes de Instituições de Ensino Superior), e Otaviano Helene, professor do Instituto de Física da USP e ex-presidente da Adusp (Associação dos Docentes da USP)

Elites

"Afiada a coluna do jornalista Fernando de Barros e Silva no último domingo (TV Folha). Coloca-nos todos a pensar sobre os destinos desta nossa nação (se é que ela ainda existe).
A elite "ocupante" não hesita em renunciar de vez à gestão do Estado, entregue aos mais "tecnicamente" capacitados para a tarefa suja da coleta do butim restante. No meio da miséria galopante da imprensa nacional, esse jornal ainda abre espaço para críticas inteligentes -pena que escondidas nas páginas dos suplementos de novelas..."
Pedro Puntoni, pesquisador do Cebrap e professor de história ibérica na USP (São Paulo, SP)

Armadilha da chuva

"Se as enchentes são difíceis de evitar, seria perfeitamente possível minimizar seus efeitos no trânsito indicando caminhos alternativos aos motoristas. Quinta-feira cheguei a São Paulo pela rodovia dos Bandeirantes e "caí na armadilha" da marginal Tietê, quando poderia ter escolhido dois outros trajetos, livres de água, se tivesse sido prevenida a tempo."
Silvia C.R. de Vasconcellos (Jundiaí, SP)

Kit de primeiros socorros

"Fico indignado com a passividade com que instituições da sociedade dita organizada (a grande imprensa, os conselhos de medicina, os partidos políticos etc.) se portaram em relação à obrigatoriedade de um apetrecho inútil, o kit de primeiros socorros.
Por que a Folha não iniciou campanhas contra essa obrigatoriedade? Iria ajudar a diminuir o custo Brasil também. O dia-a-dia não é só de escândalos políticos e de crise do real."
William Yan Wey Man (Curitiba, PR)


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