São Paulo, terça-feira, 14 de março de 2000


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Genética partidária

CLÓVIS ROSSI

Madri - Talvez haja, nas eleições espanholas de domingo, uma lição a ser aprendida pelos "tucanos" brasileiros.
Por partes: o PSOE (Partido Socialista Operário Espanhol) é um dos modelos que o presidente Fernando Henrique Cardoso mais admirava, pelo menos enquanto Felipe González, seu principal líder, esteve no poder.
O PSOE pode até ser tido, com um esforço de raciocínio, como precursor do que hoje se chama de "Terceira Via", de que FHC é um dos expoentes. Ou seja, uma forma de governar que tenta conciliar o liberalismo da direita com toques sociais, mas sem aferrar-se aos velhos dogmas estatizantes e nacionalistas da social-democracia.
FHC acha que é isso que está fazendo no Brasil.
Muito bem. Em 1996, o PSOE perdeu o governo para o, digamos, PFL espanhol, chamado PP (Partido Popular), herdeiro já remoto da ditadura franquista, como o PFL o é da brasileira.
O PP uma vez no governo não foi essencialmente diferente do PSOE. Quem, aliás, iniciou o processo de privatização na Espanha foram os "tucanos" locais. O PP só fez dar mais velocidade e intensidade ao processo.
Agora, quatro anos depois, o PP impõe uma derrota histórica aos socialistas e, pela primeira vez desde a redemocratização da Espanha (1977), consegue mais votos do que a soma de socialistas e comunistas.
Tudo porque, além de ser mais veloz no seu liberalismo do que o PSOE, não tocou no Estado de Bem-Estar Social que os socialistas haviam consolidado durante seus 14 anos de gestão. Se é para fazer a mesma coisa, é natural que o eleitorado prefira quem geneticamente é mais adequado para liberalizar, desde que não toque no social.
Voltemos ao Brasil: se é para liberalizar, o PFL é mais indicado do que o PSDB. Se, ainda por cima, ataca com salário mínimo de US$ 100 e fundo de combate à pobreza, pode perfeitamente convencer o eleitorado e deixar o "tucanato" chupando o dedo dentro de dois anos e meio.


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