São Paulo, terça-feira, 14 de março de 2000


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Filme de terror

ELIANE CANTANHÊDE

Brasília - Com Celso Pitta entre a renúncia ou o impeachment e devidamente liquidado, vamos a quem realmente interessa: Paulo Maluf.
Pitta não é Pitta. É Maluf. É a cara de Maluf, a mão de Maluf, a extensão de Maluf. O seu último grande erro.
Pitta não era nada, não é nada. Saiu do nada e volta para o nada. Se entre um nada e outro ele ocupou a mais poderosa e rica prefeitura do país, você aí, eleitor de São Paulo, é quem tem de explicar. Ou se explicar.
Maluf já tinha batido no teto e só vinha caindo, de derrota em derrota. A entrevista de Nicéa Pitta (quer dizer, Camargo) derruba não só a gestão Pitta, mas o que restava de Maluf.
Se Maluf acaba, o malufismo fica. Seu eleitorado é forte, fiel e peculiar. Forjado desde Adhemar de Barros e Jânio Quadros, é suscetível ao discurso populista e não dá a menor bola para moralidade. Já teve diferentes formas. Hoje, é malufista. Amanhã, poderá ser qualquer coisa, mas ainda aí.
Na liderança da eleição municipal, Marta Suplicy só tem a comemorar o furacão Nicéa, porque a esquerda e sua velha bandeira anticorrupção saem fortalecidas. Mas é preciso saber para onde vão os votos malufistas. Se forem para Geraldo Alckmin, ele pode chegar ao segundo turno. E se transformar aí num adversário perigoso.
Tanto Maluf sabe que deixou Nicéa meio de lado e centrou em Mário Covas. No mínimo, lembrou que seu eleitorado pode tudo, menos descambar para Covas e Alckmin -que entrou no agora-ou-nunca. É pegar o eleitorado de direita ou largar.
Ou Maluf se candidata para perder feio, ou assiste impotente a boa parte dos seus votos migrando para Alckmin, ou tem que improvisar rapidamente um herdeiro para o malufismo. Como naqueles filmes de terror em que todo mundo pensa que o demônio morreu, mas ele está inoculado numa pessoa, num cão, num gato. Pronto a sobreviver para sempre.
Em geral, são filmes de quinta categoria, mas parece que os eleitores de São Paulo adoram.


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