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Irmãos e primeiras-damas
CARLOS HEITOR CONY
Rio de Janeiro - Insisto num ponto:
dona Nicéa praticamente nada revelou de novo. A maioria de suas denúncias era do conhecimento geral. A novidade do depoimento ao Chico Pinheiro foi seu status de mulher do prefeito, pessoa de dentro do esquema de
corrupção na Prefeitura de São Paulo.
Valeu por uma confissão.
Foi assim com o Collor. Já se sabia
que madame gastava demais, que o
presidente era leviano, que PC manobrava gigantesca máquina de extorsão. Foi preciso que uma pessoa da família Collor -um irmão- botasse a
boca no trombone. Mesmo assim faltavam provas. Um motorista as trouxe.
Dos casos Pitta e Collor deve-se concluir que os escândalos são conhecidos, publicados e comentados. Mas o
clique definitivo só virá quando um
sócio qualificado, uma ex-mulher ou
um irmão, por vingança, ressentimento ou -até mesmo- por dor na consciência venha lavar a roupa suja do
poder.
Da esfera municipal, passo para a federal. O governo de FHC está sendo
pontuado por escândalos equivalentes
aos de Pitta. Compra de votos para a
reeleição, subornos para impedir CPIs
no Congresso, sem falar no caso das teles, quando as investigações foram
desviadas para os arapongas.
Seria o mesmo, no caso paulista, que
as denúncias de dona Nicéa fossem esquecidas e a polícia, mais tarde a Justiça, se limitassem a investigar a própria Nicéa em busca de seus informantes e de suas razões pessoais para
tomar a atitude que tomou.
Digamos: dona Nicéa falou tudo
aquilo para se vingar do marido que a
traiu com uma loura. Logo, tudo o que
ela revelou não deve ser levado em
consideração.
Foi isso, aproximadamente, o que
ocorreu com o caso das teles. E há ainda histórias mal-explicadas na seara
federal, como as contas em Cayman, a
"pasta rosa" e o projeto Sivam. Não se
deve contrariar irmãos e primeiras-damas.
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