São Paulo, terça-feira, 14 de março de 2000


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Irmãos e primeiras-damas

CARLOS HEITOR CONY

Rio de Janeiro - Insisto num ponto: dona Nicéa praticamente nada revelou de novo. A maioria de suas denúncias era do conhecimento geral. A novidade do depoimento ao Chico Pinheiro foi seu status de mulher do prefeito, pessoa de dentro do esquema de corrupção na Prefeitura de São Paulo. Valeu por uma confissão.
Foi assim com o Collor. Já se sabia que madame gastava demais, que o presidente era leviano, que PC manobrava gigantesca máquina de extorsão. Foi preciso que uma pessoa da família Collor -um irmão- botasse a boca no trombone. Mesmo assim faltavam provas. Um motorista as trouxe.
Dos casos Pitta e Collor deve-se concluir que os escândalos são conhecidos, publicados e comentados. Mas o clique definitivo só virá quando um sócio qualificado, uma ex-mulher ou um irmão, por vingança, ressentimento ou -até mesmo- por dor na consciência venha lavar a roupa suja do poder.
Da esfera municipal, passo para a federal. O governo de FHC está sendo pontuado por escândalos equivalentes aos de Pitta. Compra de votos para a reeleição, subornos para impedir CPIs no Congresso, sem falar no caso das teles, quando as investigações foram desviadas para os arapongas.
Seria o mesmo, no caso paulista, que as denúncias de dona Nicéa fossem esquecidas e a polícia, mais tarde a Justiça, se limitassem a investigar a própria Nicéa em busca de seus informantes e de suas razões pessoais para tomar a atitude que tomou.
Digamos: dona Nicéa falou tudo aquilo para se vingar do marido que a traiu com uma loura. Logo, tudo o que ela revelou não deve ser levado em consideração.
Foi isso, aproximadamente, o que ocorreu com o caso das teles. E há ainda histórias mal-explicadas na seara federal, como as contas em Cayman, a "pasta rosa" e o projeto Sivam. Não se deve contrariar irmãos e primeiras-damas.


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