São Paulo, sexta-feira, 14 de abril de 2000


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Ignorância e prepotência

ELIANE CANTANHÊDE

Brasília - O diretor-gerente interino do FMI, Stanley Fischer, não deveria sair por aí chamando o Congresso brasileiro de "populista". Além de abusado, é mal-informado.
Se o Congresso fosse mesmo populista... o mínimo já era mais de de US$ 100 há muito tempo, os funcionários públicos não estariam sem aumento há seis anos, FHC não teria carta branca para privatizar tudo e o "fora FMI" já estaria há muito aprovado.
A votação que varou a madrugada de quarta para quinta não foi só o que a opinião pública queria, mas também o que os próprios políticos reconheciam inadiável: um aumento de verbas para setores cruciais.
O orçamento previsto para a saúde aumentou R$ 2,1 bilhões, o das universidades federais, R$ 30 milhões, a reforma agrária ganhou mais R$ 20 milhões. Em geral, tudo condicionado a um excesso de arrecadação.
Ou seja: além de justo, cauteloso e responsável -como quis até a esquerda, apesar de mais comprometida com um discurso social do que com o acerto de contas públicas.
O primeiro gritar contra Fischer foi o líder do PDT, Miro Teixeira (RJ): "A posição do sr. Fischer é extremamente ignorante, de quem não conhece nada do que acontece por aqui".
O líder do PT, Aloizio Mercadante (SP), veio em seguida: "Cumprir as regras macroeconômicas do FMI é o nosso limite. Eles não têm a prerrogativa de dizer como, onde e com o que vamos usar nosso Orçamento".
Esquerda, direita, centro, governo e oposição. Uma onda de indignação varreu ontem Brasília e insuflou os brios parlamentares por conta da invasão imperialista de Fischer.
Foi assim que o Congresso conquistou o raríssimo direito a uma defesa. Apanha lá fora porque é "populista". Apanha aqui dentro por "falta de sensibilidade popular".
No fundo, faz o que o governo quer. Para variar, uma vez ou outra trai o governo, esquece o FMI, mira no eleitor e acerta no social. Ainda bem.


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