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Ignorância e prepotência
ELIANE CANTANHÊDE
Brasília - O diretor-gerente interino
do FMI, Stanley Fischer, não deveria
sair por aí chamando o Congresso
brasileiro de "populista". Além de
abusado, é mal-informado.
Se o Congresso fosse mesmo populista... o mínimo já era mais de de US$
100 há muito tempo, os funcionários
públicos não estariam sem aumento
há seis anos, FHC não teria carta
branca para privatizar tudo e o "fora
FMI" já estaria há muito aprovado.
A votação que varou a madrugada
de quarta para quinta não foi só o que
a opinião pública queria, mas também o que os próprios políticos reconheciam inadiável: um aumento de
verbas para setores cruciais.
O orçamento previsto para a saúde
aumentou R$ 2,1 bilhões, o das universidades federais, R$ 30 milhões, a reforma agrária ganhou mais R$ 20 milhões. Em geral, tudo condicionado a
um excesso de arrecadação.
Ou seja: além de justo, cauteloso e
responsável -como quis até a esquerda, apesar de mais comprometida
com um discurso social do que com o
acerto de contas públicas.
O primeiro gritar contra Fischer foi o
líder do PDT, Miro Teixeira (RJ): "A
posição do sr. Fischer é extremamente
ignorante, de quem não conhece nada
do que acontece por aqui".
O líder do PT, Aloizio Mercadante
(SP), veio em seguida: "Cumprir as regras macroeconômicas do FMI é o
nosso limite. Eles não têm a prerrogativa de dizer como, onde e com o que
vamos usar nosso Orçamento".
Esquerda, direita, centro, governo e
oposição. Uma onda de indignação
varreu ontem Brasília e insuflou os
brios parlamentares por conta da invasão imperialista de Fischer.
Foi assim que o Congresso conquistou o raríssimo direito a uma defesa.
Apanha lá fora porque é "populista".
Apanha aqui dentro por "falta de sensibilidade popular".
No fundo, faz o que o governo quer.
Para variar, uma vez ou outra trai o
governo, esquece o FMI, mira no eleitor e acerta no social. Ainda bem.
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