|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
BORIS FAUSTO
As muitas perguntas
A guerra do Iraque surpreendentemente vai chegando ao fim.
Ficam, no rescaldo, as muitas perguntas para as quais nem sempre há resposta. Enumero algumas: onde estão
as temíveis armas químicas e bacteriológicas que Saddam Hussein teria armazenado? o que aconteceu com a
não menos temível Guarda Republicana, que teria formado dois anéis de
ferro em torno de Bagdá? Uma última
questão para quem gosta dos aspectos
novelescos dos acontecimentos internacionais: o que é feito de Saddam
Hussein?
Tudo indica que as terríveis armas
do ditador iraquiano simplesmente
não existem ou, se existem, não têm a
importância que lhes foi atribuída,
embora alguma "descoberta" de última hora ainda possa ser feita. Se somarmos essa constatação ao colapso
da Guarda Republicana, concluiremos que uma grande encenação foi
montada pelo governo americano para justificar a invasão do Iraque e
manter a maioria da população dos
Estados Unidos em um clima misto de
medo e patriotismo.
Na verdade, vista retrospectivamente, a fisionomia do Iraque é a de um
país esgotado pelo embargo que lhe
foi imposto após a Guerra do Golfo e
pelas loucuras de uma ditadura cruel.
Nem mesmo o esperado e temido ataque de mísseis ao Estado de Israel, como aconteceu em 1991, veio a ocorrer.
Confirma-se, assim, a tese de que uma
das razões para a guerra, ainda que
não a mais importante, foi o fato de o
Iraque ser um país fragilizado em
comparação com os outros integrantes do "eixo do mal".
Quanto ao destino de Saddam Hussein, é difícil imaginar que ele siga o
caminho de Bin Laden, cujo estilo ascético lhe permitiu esconder-se nas
cavernas do Afeganistão e sabe-se lá
onde mais. Também é difícil imaginar
que abandone a vida palaciana para
refugiar-se em um país árabe como
um asilado incômodo. Então, da pergunta sobre sua localização, brotam
outras perguntas: estará ainda vivo?
estará em Tikrit, sua cidade natal,
aguardando um martírio que o converta em símbolo da resistência aos
invasores anglo-americanos?
Mas todas essas perguntas referem-se mais ao passado -e algumas delas
têm já uma resposta. Enquanto olhamos o presente, composto da euforia
do governo americano, do caos nas cidades iraquianas, das mortes de civis
-como sempre inocentes-, do
aplauso ou da indignação popular
contra a chamada coalizão, nascem as
perguntas desafiadoras voltadas para
o futuro.
Do leque de questões, duas podem
ser destacadas. No plano interno, que
tipo de ordem será instalado no país?
Se a experiência recente do Afeganistão não vale pelas visíveis diferenças
entre os dois países, também não vale
a longínqua experiência, com saldo
positivo, do Japão do pós-Guerra.
No plano internacional, brota outra
pergunta: o Iraque "é um caso único",
como afirma hoje a Casa Branca, ou os
êxitos político-militares do governo
Bush vão levá-lo a atacar novos prováveis integrantes do "eixo do mal", como a Síria? Como se dizia no final de
cada capítulo das fitas em série, "to be
continued".
Boris Fausto escreve às segundas-feiras nesta
coluna.
Texto Anterior: Rio de Janeiro - Carlos Heitor Cony: Quando as estátuas caem Próximo Texto: Frases
Índice
|