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CARLOS HEITOR CONY
Quando as estátuas caem
RIO DE JANEIRO - Moisés subiu ao Sinai para conversar com o Senhor.
Quando desceu, encontrou seu povo,
o povo do Senhor, adorando um bezerro de ouro. É antiga a mania de
criar ídolos e estátuas para a adoração ou a veneração popular
Em 1968, a caminho de Cuba, passei alguns dias em Praga esperando o
avião que me levaria a Havana. Vi
derrubarem o imenso busto de Stálin
na praça Wenceslau. Foi devidamente cuspido e chutado. Um ano após,
de regresso à Europa, fiz uma escala
em Praga, esperando o vôo de Paris.
Deu tempo de dar um giro pela cidade mais bonita da Europa Central.
O busto de Stálin estava lá, recolocado no mesmo pedestal e coberto de
flores. Bem verdade que depois foi retirado, parece que definitivamente.
Torço para isso.
Em geral, quando se derruba um
ídolo, coloca-se outro no mesmo lugar e, geralmente, com o mesmo sentido. Vimos todos a derrubada das
diversas estátuas de Saddam -como
o homem gostava de ser perenizado
em bronze!- e mais uma vez confirmou-se que os ídolos têm pés de barro, que, ao contrário do bronze, tem
validade efêmera.
A guerra do Iraque estava ameaçando acabar e ainda não havia produzido nenhuma vinheta, nenhum
logotipo que passasse à história. A do
Vietnã produziu aquela foto da menina nua queimada pela napalm. A
Segunda Guerra Mundial ficou marcada pelo monstruoso cogumelo que
brotou do chão de Hiroshima.
São duas imagens inúteis em termos de lição. Nem a bomba atômica
nem a derrubada das estátuas de um
tirano ensinaram ou ensinarão a humanidade a buscar novos caminhos
para a realização de seus anseios de
paz e de liberdade.
Qualquer pretexto ou falta de pretexto fará a nação mais poderosa esmagar a nação mais fraca. Não importa que, tal como aconteceu no Iraque, o pretexto tenha sido as armas
que não existiam. E a derrubada de
um tirano costuma ser a semente de
outro em sentido contrário.
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