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CARLOS HEITOR CONY
Barbas de molho
RIO DE JANEIRO - Nem baixou ainda a poeira levantada pelos Estados
Unidos a respeito das armas de destruição em massa que o Iraque fabricava e mantinha em arsenais secretos. Um ano já se passou e nada foi
provado além do que provado já era:
o Iraque tem a terceira maior reserva
de petróleo do mundo. Elementar,
meu caro.
Tal como no teatro, o show do complexo industrial-militar norte-americano não pode parar. Em fase de rescaldo, o caso do Iraque ficou para
trás e é preciso pensar no futuro. E o
Brasil parece destinado a ser um país
do futuro, seja que futuro for.
Não tem grandes reservas de petróleo, pelo menos até agora, mas tem
recursos naturais apreciáveis, que, tal
como o Brasil, será a matéria-prima
do futuro.
A campanha começou discretamente, com acusações mais ou menos
vagas, mas sabemos como as coisas
acontecem nos estados-maiores que
regem a economia e a política externa dos EUA. Antes do 11 de Setembro,
a prioridade preventiva do Pentágono e da Casa Branca não era o terror,
muito menos Bin Laden. Já eram o
Iraque e, mais especificamente, Saddam Hussein, a besta-negra herdada
por Bush-filho de Bush-pai.
Mais cedo ou mais tarde, com perdas e danos consideráveis, o Iraque
será o passado, e o Brasil, como sempre, o futuro. Não adianta nossas autoridades desmentirem que enriquecemos o urânio para fins poucos pacíficos. A suspeita já existia e agora
transformou-se em uma acusação
explícita.
A doutrina que vigora no Pentágono é a de que não pode existir um
metro quadrado no planeta onde sejam fabricadas novas armas nucleares -as existentes já criam problemas para a soberania político-militar
dos Estados Unidos.
Evidentemente ninguém pensa numa invasão como a do Iraque no
Brasil. Não sei se ainda existem os fogos Caramuru, que soltamos nos nossos estádios e festas juninas. Mas seus
donos devem botar as barbas de molho.
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