São Paulo, quarta-feira, 14 de abril de 2004

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CARLOS HEITOR CONY

Barbas de molho

RIO DE JANEIRO - Nem baixou ainda a poeira levantada pelos Estados Unidos a respeito das armas de destruição em massa que o Iraque fabricava e mantinha em arsenais secretos. Um ano já se passou e nada foi provado além do que provado já era: o Iraque tem a terceira maior reserva de petróleo do mundo. Elementar, meu caro.
Tal como no teatro, o show do complexo industrial-militar norte-americano não pode parar. Em fase de rescaldo, o caso do Iraque ficou para trás e é preciso pensar no futuro. E o Brasil parece destinado a ser um país do futuro, seja que futuro for.
Não tem grandes reservas de petróleo, pelo menos até agora, mas tem recursos naturais apreciáveis, que, tal como o Brasil, será a matéria-prima do futuro.
A campanha começou discretamente, com acusações mais ou menos vagas, mas sabemos como as coisas acontecem nos estados-maiores que regem a economia e a política externa dos EUA. Antes do 11 de Setembro, a prioridade preventiva do Pentágono e da Casa Branca não era o terror, muito menos Bin Laden. Já eram o Iraque e, mais especificamente, Saddam Hussein, a besta-negra herdada por Bush-filho de Bush-pai.
Mais cedo ou mais tarde, com perdas e danos consideráveis, o Iraque será o passado, e o Brasil, como sempre, o futuro. Não adianta nossas autoridades desmentirem que enriquecemos o urânio para fins poucos pacíficos. A suspeita já existia e agora transformou-se em uma acusação explícita.
A doutrina que vigora no Pentágono é a de que não pode existir um metro quadrado no planeta onde sejam fabricadas novas armas nucleares -as existentes já criam problemas para a soberania político-militar dos Estados Unidos.
Evidentemente ninguém pensa numa invasão como a do Iraque no Brasil. Não sei se ainda existem os fogos Caramuru, que soltamos nos nossos estádios e festas juninas. Mas seus donos devem botar as barbas de molho.


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