São Paulo, quarta-feira, 14 de abril de 2004

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FERNANDO RODRIGUES

Caso abafado

BRASÍLIA - O escândalo Waldomiro Diniz completou dois meses ontem. O ex-assessor de José Dirceu passou cerca de cinco horas falando à CPI da Assembléia Legislativa do Rio.
Waldomiro negou-se a responder a algumas perguntas. Confirmou ter repassado R$ 100 mil para a campanha de Geraldo Magela (PT) a governador de Brasília, em 2002 -o petista nega ter recebido o numerário.
O ex-assessor palaciano elogiou a sindicância (sic) realizada dentro do Planalto. Em resumo, ontem foi o dia do enterro de luxo do caso.
Até o momento, foi um sucesso completo a operação abafa conduzida pelo governo federal. Waldomiro pouco ou nada esclareceu com seu depoimento no Rio. Ainda não falou à Polícia Federal. Disse que só dará depoimento à Justiça.
O principal ramo da investigação está paralisado. O Ministério Público ofereceu denúncia aparentemente antes da hora. Não há segurança de que o juiz aceitará as acusações. Tudo pode ser arquivado.
Mesmo que seja aberto um processo, a lentidão atávica da Justiça será suficiente para enterrar ainda mais fundo o escândalo.
A sindicância (sic) preparada pelo Palácio do Planalto é um êxito completo para o governo. As 70 páginas do relatório final foram divulgadas num final de tarde. Seu conteúdo não está na internet. Nada conclui.
A chave de ouro da operação abafa é a ocultação que o Planalto faz dos anexos da tal sindicância (sic). Os documentos são anódinos. Nada provam. Mas o acesso pleno a eles é negado com um argumento de rábula: "Não há interesse pessoal e específico demonstrado pelos órgãos de comunicação que lhes assegure o direito de obtenção de cópia dos autos de processo de sindicância".
Caso encerrado. Para o governo Lula, acesso a informação pública é um conceito nebuloso. Varia conforme a conveniência do momento. Agora, a ordem era abafar o caso Waldomiro Diniz. Abafado foi.


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