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CLÓVIS ROSSI
O joio, o trigo e a economia
SÃO PAULO - Há uma velha brincadeira sobre jornalismo que diz
que o que fazemos é separar o joio
do trigo, jogar fora o trigo e publicar
o joio. Piadinha engraçada e, às vezes, verdadeira.
Menos no caso das previsões sobre economia. Neste caso, nem nos
damos ao trabalho de separar o joio
do trigo. Publicamos ambos, e o leitor que trate de separar um do outro para sentir-se bem informado.
Até tive a esperança de que, com a
crise e o colossal fracasso de nove
entre dez economistas em prevê-la,
haveria um refluxo no torneio de
palpites que é dizer como será o futuro da economia. Pura ilusão. Passados uns momentos de silêncio
meio envergonhado, eis que a fábrica de palpites voltou a funcionar -e
em três turnos.
O mais recente palpite é o das instituições financeiras que atuam no
país: segundo o UOL, elas revisaram para baixo, pela sexta semana
consecutiva, a sua previsão para o
PIB em 2009. Agora, chutam retração de 0,3%. Há apenas seis semanas, previam crescimento (1,5%),
não retração.
O que aconteceu nesse mês e
meio para uma mudança tão drástica no palpite? Nada de relevante.
E nós continuamos a publicar, semana após semana, os chutes travestidos de previsão. Nem nos lembramos que o Datafolha, quando divulga suas pesquisas, informa direitinho o número de pesquisados, as
cidades em que foi feita a pesquisa,
a margem de erro e avisa claramente que se trata apenas do retrato daquele momento, não a adivinhação
do resultado final.
Na economia não. Alguém aí sabe
como cada instituição financeira
faz seus cálculos?
Podem até acertar. Mas, se há um
mês e meio enxergavam uma coisa
e agora veem outra radicalmente
diferente, como alguém pode acreditar que são realmente capazes de
prever o que vai acontecer daqui a
oito meses e meio, quando termina
o ano de 2009?
crossi@uol.com.br
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