São Paulo, terça-feira, 14 de maio de 2002

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VALDO CRUZ

Leite derramado

BRASÍLIA - Caro leitor, o que você faria se dependesse de seu trabalho para ganhar uma bolada de R$ 20 bilhões por ano? Não precisa dar a resposta. Já sei. Faria tudo o que estivesse ao seu alcance. Certo?
Errado se você fosse o governo Fernando Henrique Cardoso. Duvida? Então veja o que está acontecendo com a prorrogação da CPMF, o famoso imposto do cheque, que rende por ano aquela bolada toda.
No início, até que a equipe de FHC trabalhou direitinho. Enviou a proposta que prorroga a CPMF em junho de 2001, um ano antes de ela deixar de existir. Tempo de sobra para aprová-la no Congresso.
Depois disso, esqueceram que a CPMF era prioridade. Confiante no fato de que todos queriam a prorrogação do imposto, o governo acreditou que ele seria aprovado por gravidade. Afinal, até o PT, sonhando com a vitória na eleição presidencial, estava apoiando sua sobrevida.
Pouco esforço foi feito, então, para seu andamento pelos escaninhos do Congresso. No ano passado, o governo se enrolou com as mudanças na legislação trabalhista e deixou de lado a votação do imposto do cheque.
Veio 2002, e os governistas disseram que a votação era prioridade. Ficaram no discurso. Faltou ação. Embarcaram deputados aliados para o Marrocos e, com a ausência deles, atrasou-se a votação final da proposta na Câmara.
Depois, explodiu a crise no PFL. Mas isso já era abril, na reta final da existência do imposto. É fato que, hoje, os pefelistas estão usando a votação da CPMF para chantagear o governo. Têm lá sua parcela de culpa.
Mas a maior responsabilidade é mesmo de um governo que, tendo um ano para votar algo prioritário, ficou olhando a vida passar pela janela.
Agora, o estrago está feito. Vai faltar dinheiro no caixa do governo. Obras importantes vão parar. Menos gente será empregada. Menos inaugurações acontecerão.
Quem vai sentir nas pesquisas a inoperância governista é o candidato José Serra. O PT agradece.



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