São Paulo, terça-feira, 14 de maio de 2002

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CARLOS HEITOR CONY

Encontros e desencontros

RIO DE JANEIRO - Gostei da foto dos quatro presidenciáveis sentados à mesma mesa num encontro com empresários predominantemente paulistas. Nem tudo está perdido, ainda há espaço para a cordialidade dos adversários, embora forçada pelas circunstâncias.
O que não me agradou foi o fato em si, ou seja, os candidatos tidos como mais fortes para a próxima sucessão presidencial explicando aos representantes do Produto Interno Bruto o que pretendem ou não pretendem fazer.
O discurso deles, em si, era quase o mesmo, e a intenção também. Não assustar o capital, tranquilizar o mercado, essas mumunhas que estão agora na primeira página dos jornais, dando conta de que qualquer candidato que não seja o do atual governo trará riscos para o país e para o povo.
O mais curioso é que, fora daquela platéia homogênea, o discurso deles muda de acordo com as circunstâncias e o auditório. O próprio Serra, aparentemente o beneficiário mais visível da política adotada pela equipe econômica de FHC, faz restrições ao espírito de guarda-livros que predomina desde 1994, tornando a contabilidade dos orçamentos mais importante do que o desenvolvimento.
Evidente que os empresários, em linhas gerais, saíram apaziguados. Vença quem vencer, não haverá moratória, o jogo continuará dentro das mesmas regras. Não acreditam muito em Lula e em Garotinho, que são fatos novos, embora Lula seja candidato pela quarta vez.
O que me passou do encontro foi a hipocrisia de parte a parte, todos fingindo acreditar no que disseram e no que ouviram. Sabemos que, na realidade, as suspeitas continuam, ainda que em nível cordial, minimamente educado. Faz parte do jogo essa cordialidade.
Os votos serão buscados em outros auditórios. Mas a grana para lubrificar as campanhas depende de encontros assim, alguns abertos, outros fechados.


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