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CARLOS HEITOR CONY
Encontros e desencontros
RIO DE JANEIRO - Gostei da foto dos quatro presidenciáveis sentados à
mesma mesa num encontro com empresários predominantemente paulistas. Nem tudo está perdido, ainda
há espaço para a cordialidade dos
adversários, embora forçada pelas
circunstâncias.
O que não me agradou foi o fato em
si, ou seja, os candidatos tidos como
mais fortes para a próxima sucessão
presidencial explicando aos representantes do Produto Interno Bruto o
que pretendem ou não pretendem fazer.
O discurso deles, em si, era quase o
mesmo, e a intenção também. Não
assustar o capital, tranquilizar o
mercado, essas mumunhas que estão
agora na primeira página dos jornais, dando conta de que qualquer
candidato que não seja o do atual governo trará riscos para o país e para o
povo.
O mais curioso é que, fora daquela
platéia homogênea, o discurso deles
muda de acordo com as circunstâncias e o auditório. O próprio Serra,
aparentemente o beneficiário mais
visível da política adotada pela equipe econômica de FHC, faz restrições
ao espírito de guarda-livros que predomina desde 1994, tornando a contabilidade dos orçamentos mais importante do que o desenvolvimento.
Evidente que os empresários, em linhas gerais, saíram apaziguados.
Vença quem vencer, não haverá moratória, o jogo continuará dentro das
mesmas regras. Não acreditam muito em Lula e em Garotinho, que são
fatos novos, embora Lula seja candidato pela quarta vez.
O que me passou do encontro foi a
hipocrisia de parte a parte, todos fingindo acreditar no que disseram e no
que ouviram. Sabemos que, na realidade, as suspeitas continuam, ainda
que em nível cordial, minimamente
educado. Faz parte do jogo essa cordialidade.
Os votos serão buscados em outros
auditórios. Mas a grana para lubrificar as campanhas depende de encontros assim, alguns abertos, outros fechados.
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