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CHANCE PARA LULA
A concessão de habeas corpus
ao jornalista Larry Rohter não
chega a desfazer o grave erro que o
governo cometeu na condução de
sua querela contra o diário "The New
York Times", mas é o bastante para
demonstrar que o Brasil, apesar dos
surtos autoritários do Planalto, é
uma democracia sólida. Funcionou
aqui o sistema de "checks and balances" (freios e contrapesos) que caracteriza o equilíbrio dos Poderes. Chamado a intervir, o Judiciário repara
uma situação de claro abuso de autoridade do Executivo.
Considerando-se os princípios
constitucionais do devido processo
legal, do amplo direito à defesa e ao
contraditório e, principalmente, o da
liberdade de manifestação do pensamento -que se aplicam tanto a brasileiros como a estrangeiros residentes-, não poderia ser outra a decisão do ministro Peçanha Martins, do
Superior Tribunal de Justiça (STJ),
que não a de outorgar o salvo-conduto ao jornalista. A menos que seja
cassado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), o habeas corpus se mantém liminarmente até apreciação pelos demais magistrados da Primeira
Seção do STJ, o que não deve ocorrer
antes de algumas semanas -o suficiente para que o caso arrefeça.
Raras vezes se viu uma administração cometer tão rotundo erro de avaliação política. Em seu esforço para
diminuir o impacto negativo da reportagem sobre as libações presidenciais, o governo pôs o mundo inteiro a comentar os hábitos etílicos
de Lula e transformou o que qualificava como fofocas no principal assunto da República.
Se o governo recobrar o juízo que
lhe faltou quando decidiu pela expulsão de Rohter, não tentará anular a
decisão do STJ. Ao contrário, toma-la-á como uma tábua de salvação.
Apesar de o habeas corpus poder
soar como uma derrota para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, trata-se de sua melhor chance para, sem
ter de admitir que errou, deixar que o
caso retorne à dimensão de que nunca deveria ter saído: o esquecimento.
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