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CLÓVIS ROSSI
O futuro te condena?
PARIS - O leitor Francisco Bueno joga para o futuro o desgraçado episódio
Lula x "The New York Times" ao escrever: "Temo que algum dia possa
ocorrer algum acontecimento em que
as pessoas digam: "Está vendo? Acho
que aquele caso tinha um fundo de
verdade...".
"Aí pode ser a desmoralização total", completa ele.
De fato, qualquer acontecimento
doravante pode servir para tentativas de desqualificação do presidente,
como vítima do álcool. Digamos que
o Congresso melhore o reajuste do salário mínimo e que Lula decida vetar
o novo valor, tal como prometeu. Os
prejudicados dirão: "Bebeu".
É só um exemplo para mostrar o
beco sem saída em que o governo se
meteu ao dar caráter de grave questão de Estado ao que era uma bobagem, lamentável, mas bobagem.
Sempre se poderá dizer que quem
começou tudo foi uma especulação
jornalística irresponsável. É verdade,
mas é preciso dar dimensão a essa
verdade: a especulação caminhava
para a relativa irrelevância, a ser
eventualmente sacada do coldre pela
oposição, quando o governo resolveu
retirar o visto do jornalista, amplificando de maneira extraordinária o
alcance do texto.
Uma providência cretina, de qualquer ângulo que se olhe. Um deles:
textos semelhantes podem ser produzidos de Buenos Aires ou de Miami
ou de qualquer outro lugar do mundo se não têm parentesco com a realidade. Expulsar do país todos os jornalistas, nacionais ou estrangeiros,
não impediria a repetição do episódio portanto.
Quem foi que tomou uma decisão
tão estapafúrdia? Se foi o presidente
quem decidiu pela expulsão do jornalista, nada há a fazer. É irremovível até as eleições de 2006. Ele próprio
e, com ele, o país pagarão o preço da
desmoralização temida pelo leitor.
Se foi alguém do círculo íntimo de
Lula, é rezar para que peça demissão,
porque visivelmente não serve nem
para passar pela calçada de um palácio de governo. Vale idêntico raciocínio para todos os que não se opuseram. Que horror.
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