São Paulo, sexta-feira, 14 de maio de 2004 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES A verdade sobre o mínimo
ANTHONY GAROTINHO
"Mas a seguridade social não é só Previdência", lembraria Palocci. Ele está correto. Diz o parágrafo II do artigo 195 da Constituição: "A proposta de orçamento da seguridade social será elaborada de forma integrada pelos órgãos responsáveis pela saúde, Previdência e assistência social, tendo em vista as metas e prioridades estabelecidas na Lei de Diretrizes Orçamentárias". Além dos R$ 122 bilhões da Previdência gastos com aposentados e pensionistas, o Orçamento Geral da União prevê gastos de R$ 33 bilhões para a saúde e de R$ 13 bilhões para a assistência social, se considerarmos todo o orçamento do Ministério do Desenvolvimento Social e de combate à fome. Ainda assim, subtraindo os R$ 122 bilhões do pagamento de aposentadorias e pensões, os R$ 33 bilhões da saúde e os R$ 13 bilhões da assistência social do total dos R$ 183 bilhões arrecadados para a área, sobram R$ 15 bilhões. Agora vem a grande esperteza que é sempre escondida por quem está no poder. A esses R$ 15 bilhões devem ser somados, conforme determina a lei, R$ 26 bilhões da CPMF, que foi criada em 1996 para reforçar o Fundo Nacional de Saúde, adaptado, depois, para partilhar a sua receita com a Previdência em 26% e mais 21% no combate à fome. A CPMF integra o conjunto de contribuições que financiam a seguridade social pelo menos até 31 de dezembro de 2007; é o que determina a Constituição. Então veja que incrível: os R$ 15 bilhões que sobraram, somados aos R$ 26 bilhões da CPMF, garantem um superávit de R$ 41 bilhões. É dinheiro suficiente para sustentar um aumento substancial do salário mínimo. Fazendo a pergunta: se a arrecadação da seguridade social tem um saldo de R$ 41 bilhões, onde está o déficit do regime geral da Previdência? A resposta começa por uma sigla: DRU, ou Desvinculação de Receitas da União. Esse mecanismo foi inventado pela equipe econômica do governo Itamar Franco e aperfeiçoado nos governos tucano e Lula. A DRU faz o seguinte: separa um quinto dos impostos e contribuições arrecadados pelo governo federal e, antes de os distribuir, conforme determina a Constituição e as leis orçamentárias, transfere para o caixa da União. Daí o seu nome, DRU. E para que serve? É um jeito disfarçado de tirar o dinheiro reservado pela Constituição à Previdência, à saúde e à assistência social sem enfrentar abertamente a polêmica que tal procedimento implicaria. Para que são desviados? Para arcar com juros e encargos da dívida pública, que leva R$ 1 de cada R$ 3 dos impostos e contribuições arrecadados pela União. É o dinheiro tomado da sociedade para remunerar o capital, detentor dos títulos da dívida pública por intermédio de bancos, fundos de pensão e de investimentos. Atraído pela gigantesca taxa de juros, deixa de fomentar a produção e o desenvolvimento do país -porque emprestar para o governo é mais seguro e rentável. A DRU é um mecanismo do tipo Robin Hood às avessas -tira os recursos da seguridade dos pobres para garantir a rentabilidade dos ricos. Esse mecanismo sempre sofreu forte oposição do PT, até Lula assumir o governo. Usar a Previdência para justificar uma suposta falta de recursos que impediria um reajuste decente do salário mínimo é desonestidade intelectual. Anthony Garotinho, 44, é secretário de Segurança Pública do Rio de Janeiro. Foi governador do Estado (1999-2002) e prefeito de Campos (1989-92 e 1997-98). Texto Anterior: Frases Próximo Texto: Roberto Romano: Truculências governamentais Índice |
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