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MELCHIADES FILHO
Baile fiscal
BRASÍLIA - O governo Lula não
sabe cortar gastos e não parece convencido a fazer o sacrifício, ainda
que tenha iniciado discussões sobre
um ajuste fiscal e abandonado a
conversa de que isso fazia parte da
"agenda derrotada" em 2006.
Na semana em que revelou a intenção de elevar o superávit primário de 3,8% para até 5%, o Planalto:
* soltou um pacote de incentivos
à grande indústria que tira R$ 3,6
bilhões dos cofres públicos no ano;
* correu, certo de que o Supremo
vai proibi-lo de manobrar o Orçamento por decreto, para escrever a
medida provisória que reajustará o
salário de 800 mil servidores (impacto de R$ 2,1 bilhões em 2008);
* amadureceu a decisão de corrigir o subsídio do Bolsa Família, corroído pela inflação da cesta básica;
* abriu mão de quase R$ 3 bilhões
em impostos para segurar o preço
da gasolina para o consumidor;
* ouviu quieto a base aliada no
Congresso anunciar apoio à emenda 29, que aumentará o repasse de
verbas federais para a Saúde, ainda
órfã dos recursos da CPMF.
Estivesse disposto a apertar o
cinto, o governo não incluiria essas
medidas na pauta. Nem precisaria
vir a público, como veio, reafirmar
que PAC, folha de pagamento e programas sociais são intocáveis.
Cabe a pergunta, então: de onde
sairá o dinheiro (até R$ 25 bilhões)
para garantir a nova meta fiscal?
Erra quem acredita que emendas
parlamentares pagarão a conta. Encerradas as eleições municipais, o
Planalto será forçado a repactuar as
alianças para 2010. Não poderá tirar o doce da boca do Legislativo.
Ao que tudo indica, Lula está dobrando a aposta no crescimento
"espontâneo" da economia (a arrecadação já roda superávit de 4,4%) e
fazendo uso oportunista de um discurso oportuno, só para evitar que
os juros continuem a subir.
A idéia de um superávit maior é
antes um afago em um Banco Central preocupado com a inflação do
que um compromisso genuíno com
o corte de despesas correntes.
mfilho@folhasp.com.br
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