São Paulo, quarta-feira, 14 de maio de 2008

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CLÓVIS ROSSI

Plebiscitos e plebiscitos

SÃO PAULO - Bem feitas as contas, a convocação do plebiscito para eventualmente revogar os mandatos do presidente Evo Morales e de governadores bolivianos é o menos ruim dos caminhos possíveis para estabilizar a complicada situação político-institucional da Bolívia.
O melhor caminho seria o diálogo entre governo e oposição para dar forma a um arranjo que ultrapassasse o "empate" entre as duas forças, como reiteradamente os analistas vêem designando o impasse.
Em um "empate", a saída para a frente é cada lado fazer concessões de forma a restabelecer a governabilidade. Mas, no caso da Bolívia, nem um lado nem o outro estão dispostos a fazer concessões, o que torna na prática inviável o suposto melhor caminho.
O plebiscito talvez permita aumentar o grau de disposição para concessões de um lado e de outro, mesmo que se reproduza o "empate", como muitos acreditam (ganha Evo Morales, mas ganham também os governadores).
Pelo menos ficará claro que os dois lados estão onde estão para ficar, com respaldo do eleitorado, que é, afinal e em última instância, o dono dos mandatos.
O sentido comum manda, nessa hipótese, negociar com o adversário se não for possível esmagá-lo nem pela força nem pelo voto.
Claro que sentido comum nem sempre predomina, em especial na turbulenta história da Bolívia e da América Latina. Ainda assim, o plebiscito é a forma mais democrática de dirimir pendências.
A rigor, o seu grande defeito, neste caso, é o de vir de cima para baixo. Plebiscitos, em tese, deveriam ser um instrumento à mão do eleitor para destituir governantes incompetentes, corruptos, desleais. Não um instrumento do governante para tentar reafirmar-se no cargo.
É uma proposta interessante para ser adotada inclusive no Brasil, desde que preservada a característica de vir de baixo para cima.


crossi@uol.com.br

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