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CLÓVIS ROSSI
Plebiscitos e plebiscitos
SÃO PAULO - Bem feitas as contas, a convocação do plebiscito para
eventualmente revogar os mandatos do presidente Evo Morales e de
governadores bolivianos é o menos
ruim dos caminhos possíveis para
estabilizar a complicada situação
político-institucional da Bolívia.
O melhor caminho seria o diálogo
entre governo e oposição para dar
forma a um arranjo que ultrapassasse o "empate" entre as duas forças, como reiteradamente os analistas vêem designando o impasse.
Em um "empate", a saída para a
frente é cada lado fazer concessões
de forma a restabelecer a governabilidade. Mas, no caso da Bolívia,
nem um lado nem o outro estão dispostos a fazer concessões, o que torna na prática inviável o suposto melhor caminho.
O plebiscito talvez permita aumentar o grau de disposição para
concessões de um lado e de outro,
mesmo que se reproduza o "empate", como muitos acreditam (ganha
Evo Morales, mas ganham também
os governadores).
Pelo menos ficará claro que os
dois lados estão onde estão para ficar, com respaldo do eleitorado,
que é, afinal e em última instância,
o dono dos mandatos.
O sentido comum manda, nessa
hipótese, negociar com o adversário se não for possível esmagá-lo
nem pela força nem pelo voto.
Claro que sentido comum nem
sempre predomina, em especial na
turbulenta história da Bolívia e da
América Latina. Ainda assim, o plebiscito é a forma mais democrática
de dirimir pendências.
A rigor, o seu grande defeito, neste caso, é o de vir de cima para baixo.
Plebiscitos, em tese, deveriam ser
um instrumento à mão do eleitor
para destituir governantes incompetentes, corruptos, desleais. Não
um instrumento do governante para tentar reafirmar-se no cargo.
É uma proposta interessante para ser adotada inclusive no Brasil,
desde que preservada a característica de vir de baixo para cima.
crossi@uol.com.br
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