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MARCELO BERABA
Onde está Elias Maluco?
RIO DE JANEIRO - Na semana passada, ainda atônitos, nós nos perguntávamos onde estava Tim Lopes, repórter da TV Globo desaparecido desde
o domingo, dia 2, quando subiu à Vila Cruzeiro, no subúrbio do Rio, para
fazer uma reportagem sobre o uso
dos bailes funk pelo narcotráfico.
No último domingo, com a prisão
de dois traficantes do terceiro escalão, vieram a confirmação da morte
do jornalista e os detalhes do seu assassinato depois de ter sido espancado, torturado, julgado, condenado,
esquartejado e queimado.
Desde o dia 3, é do conhecimento
geral que o assassino de Tim Lopes é,
entre outros, Elias Pereira da Silva, o
Elias Maluco, chefe do tráfico de vários morros do Rio, entre eles o complexo do Alemão, onde está a Vila
Cruzeiro. Até ontem à noite, passados dez dias do crime, a polícia não
tinha sido capaz de prendê-lo.
É certo que, mais dia, menos dia,
vai conseguir, até porque o próprio
chefe de polícia já disse que a prisão é
uma questão de honra. Mas a demora é reveladora, mais do que da força
do tráfico, da fragilidade da nossa
polícia. Mesmo quando se esforça, ela
tem dificuldades, porque seus recursos e métodos são poucos e obsoletos.
Com a morte do Tim, a polícia subiu o morro e encontrou um cemitério clandestino. Já foram desenterradas ossadas, arcadas dentárias e objetos pessoais que comprovam que o
morro tem um dono, e não são seus
moradores. O domínio do tráfico
cresceu às claras, o que faz crer que
recebeu alguma proteção por parte
da banda podre da polícia. Agora, a
mesma polícia trabalha observada e
ameaçada de longe pelos traficantes.
O fracasso das políticas de segurança adotadas até agora no Rio e a fragilidade da polícia podem ser constatados no noticiário policial da semana. Centenas de favelas continuam
ocupadas pelo tráfico, dezenas de
Tim desapareceram anonimamente
nas mãos dos comandos, o comércio
de drogas e armas funciona normalmente. E nos sentimos todos, a cada
dia, mais inseguros e acuados.
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