São Paulo, sexta-feira, 14 de junho de 2002

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MARCELO BERABA

Onde está Elias Maluco?

RIO DE JANEIRO - Na semana passada, ainda atônitos, nós nos perguntávamos onde estava Tim Lopes, repórter da TV Globo desaparecido desde o domingo, dia 2, quando subiu à Vila Cruzeiro, no subúrbio do Rio, para fazer uma reportagem sobre o uso dos bailes funk pelo narcotráfico.
No último domingo, com a prisão de dois traficantes do terceiro escalão, vieram a confirmação da morte do jornalista e os detalhes do seu assassinato depois de ter sido espancado, torturado, julgado, condenado, esquartejado e queimado.
Desde o dia 3, é do conhecimento geral que o assassino de Tim Lopes é, entre outros, Elias Pereira da Silva, o Elias Maluco, chefe do tráfico de vários morros do Rio, entre eles o complexo do Alemão, onde está a Vila Cruzeiro. Até ontem à noite, passados dez dias do crime, a polícia não tinha sido capaz de prendê-lo.
É certo que, mais dia, menos dia, vai conseguir, até porque o próprio chefe de polícia já disse que a prisão é uma questão de honra. Mas a demora é reveladora, mais do que da força do tráfico, da fragilidade da nossa polícia. Mesmo quando se esforça, ela tem dificuldades, porque seus recursos e métodos são poucos e obsoletos.
Com a morte do Tim, a polícia subiu o morro e encontrou um cemitério clandestino. Já foram desenterradas ossadas, arcadas dentárias e objetos pessoais que comprovam que o morro tem um dono, e não são seus moradores. O domínio do tráfico cresceu às claras, o que faz crer que recebeu alguma proteção por parte da banda podre da polícia. Agora, a mesma polícia trabalha observada e ameaçada de longe pelos traficantes.
O fracasso das políticas de segurança adotadas até agora no Rio e a fragilidade da polícia podem ser constatados no noticiário policial da semana. Centenas de favelas continuam ocupadas pelo tráfico, dezenas de Tim desapareceram anonimamente nas mãos dos comandos, o comércio de drogas e armas funciona normalmente. E nos sentimos todos, a cada dia, mais inseguros e acuados.



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