São Paulo, sexta-feira, 14 de junho de 2002

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ELIANE CANTANHÊDE

O Equador é aqui. Tome calmante!

BRASÍLIA - FHC mandou dar "calmante" para o mercado, e foi justamente isso que Malan e Armínio Fraga fizeram ontem, depois que o Brasil passou o Equador e se tornou o terceiro país mais temido pelos investidores do mundo inteiro, atrás apenas da Argentina e da Nigéria. Anunciaram calmantes, ou paliativos.
A crise tem forte origem político-especulativa. Primeiro, veio a contaminação da Argentina (investidor escaldado tem medo de entrar em nova fria). Depois, a versão maliciosa de que, com Lula, vai ser o caos.
Não se cura infarto com calmante, não se bloqueia vento com canhão, não se vence especulação de fundo político com instrumentos técnico-econômicos. No máximo, ganha-se tempo. Foi o que o governo fez.
Economistas dos bons concordam com a receita: usar o direito de saque de US$ 10 bilhões do FMI, reduzir o piso das reservas, recomprar títulos da dívida e aumentar o superávit primário. Neste caso, faltou combinar com o adversário: os candidatos.
O problema é que tudo isso, apesar de correto, é insuficiente. O dólar recuou, mas os investidores não vão ter o que querem: Lula despencar nas pesquisas ou ajoelhar e rezar a cartilha integral do mercado. Ele e o PT estão indevidamente encurralados.
E nós (inclusive os empreendedores nacionais), que não somos grandes investidores, especuladores, economistas e mal entendemos a divindade chamada mercado? Só nos cabe torcer para que o governo não vá ceder agora à pressão pela saída convencional de aumentar os juros. O ideal, aliás, seria baixá-los.
Com recessão, subir as taxas seria uma temeridade. Não sensibilizaria investidores e até agravaria a percepção de fragilidade. No mais, se houvesse efeito no dólar, seria marginal.
A receita, portanto, continua sendo a de FHC: um bom calmante até a eleição, a posse e a consolidação do novo governo -etapas da mera rotina democrática. Porque não há mágica nem saídas definitivas, sejam ortodoxas ou heterodoxas. Ou seja: tão cedo não há perigo de melhorar.



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