|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ELIANE CANTANHÊDE
O Equador é aqui. Tome calmante!
BRASÍLIA - FHC mandou dar "calmante" para o mercado, e foi justamente isso que Malan e Armínio Fraga fizeram ontem, depois que o Brasil
passou o Equador e se tornou o terceiro país mais temido pelos investidores do mundo inteiro, atrás apenas
da Argentina e da Nigéria. Anunciaram calmantes, ou paliativos.
A crise tem forte origem político-especulativa. Primeiro, veio a contaminação da Argentina (investidor escaldado tem medo de entrar em nova
fria). Depois, a versão maliciosa de
que, com Lula, vai ser o caos.
Não se cura infarto com calmante,
não se bloqueia vento com canhão,
não se vence especulação de fundo
político com instrumentos técnico-econômicos. No máximo, ganha-se
tempo. Foi o que o governo fez.
Economistas dos bons concordam
com a receita: usar o direito de saque
de US$ 10 bilhões do FMI, reduzir o
piso das reservas, recomprar títulos
da dívida e aumentar o superávit primário. Neste caso, faltou combinar
com o adversário: os candidatos.
O problema é que tudo isso, apesar
de correto, é insuficiente. O dólar recuou, mas os investidores não vão ter
o que querem: Lula despencar nas
pesquisas ou ajoelhar e rezar a cartilha integral do mercado. Ele e o PT
estão indevidamente encurralados.
E nós (inclusive os empreendedores
nacionais), que não somos grandes
investidores, especuladores, economistas e mal entendemos a divindade chamada mercado? Só nos cabe
torcer para que o governo não vá ceder agora à pressão pela saída convencional de aumentar os juros. O
ideal, aliás, seria baixá-los.
Com recessão, subir as taxas seria
uma temeridade. Não sensibilizaria
investidores e até agravaria a percepção de fragilidade. No mais, se houvesse efeito no dólar, seria marginal.
A receita, portanto, continua sendo
a de FHC: um bom calmante até a
eleição, a posse e a consolidação do
novo governo -etapas da mera rotina democrática. Porque não há mágica nem saídas definitivas, sejam ortodoxas ou heterodoxas. Ou seja: tão
cedo não há perigo de melhorar.
Texto Anterior: São Paulo - Clóvis Rossi: Todos perdem Próximo Texto: Rio de Janeiro - Marcelo Beraba: Onde está Elias Maluco? Índice
|