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CANDIDATO EVASIVO
Este jornal inaugurou na segunda-feira a série de sabatinas
que está fazendo com os principais
candidatos à Presidência. O postulante do PT, Luiz Inácio Lula da Silva,
foi o primeiro a ser questionado por
jornalistas da Folha e representantes
da platéia, composta de leitores. Pelo
modo evasivo como respondeu às
perguntas, Lula deixou no ar uma
dupla mensagem: a migração de sua
candidatura rumo ao centro vai de
passo com uma sensível perda de nitidez de suas intenções políticas.
Marcou a retórica do líder nas pesquisas a tentativa de despolitizar o
debate. Como tática para driblar conflitos, foram bastante utilizadas analogias com sua biografia e alegorias
do senso comum.
Outro elemento marcante da fala
despolitizadora do petista foi o de
evitar esclarecer quais setores seriam
os prejudicados por um eventual governo Lula. A questão é fundamental. O Estado brasileiro vive uma de
suas mais graves crises orçamentárias. Para fazer jus ao dinheiro do
FMI no ano que vem, o novo presidente terá de produzir uma economia de recursos públicos (receitas
menos despesas, antes dos juros) de
3,75% do PIB -um nível alto para
padrões internacionais.
Lula se recusou a dizer, por exemplo, se os bancos iriam contribuir
mais para o esforço fiscal. Saiu-se
com frases diversionistas como "Em
vez de falar em quem vai perder, vamos falar em quem tem de ganhar".
A guinada centrista do candidato
foi tão rápida que não falta quem coloque em questão a sua sinceridade.
Em setembro de 2000, por exemplo,
num plebiscito sobre a dívida externa
promovido pela CNBB, o partido defendia o rompimento com o FMI;
hoje Lula se diz disposto a acatar os
termos do Fundo. A palavra "socialismo", que dava a tônica do programa do PT em 1989 e ainda surgia nas
propostas do partido em 1994 e em
1998, foi banida da versão 2002.
Agora, o candidato petista, vislumbrando um confronto final contra
Ciro Gomes, tenta exibir-se para os
setores moderados como a alternativa mais confiável. Desse modo, adota, apressadamente, a "realpolitik"
que marcou a trajetória do presidente
Fernando Henrique Cardoso, a qual
Lula e seu partido tanto criticaram.
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