São Paulo, quarta-feira, 14 de agosto de 2002

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CANDIDATO EVASIVO

Este jornal inaugurou na segunda-feira a série de sabatinas que está fazendo com os principais candidatos à Presidência. O postulante do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, foi o primeiro a ser questionado por jornalistas da Folha e representantes da platéia, composta de leitores. Pelo modo evasivo como respondeu às perguntas, Lula deixou no ar uma dupla mensagem: a migração de sua candidatura rumo ao centro vai de passo com uma sensível perda de nitidez de suas intenções políticas.
Marcou a retórica do líder nas pesquisas a tentativa de despolitizar o debate. Como tática para driblar conflitos, foram bastante utilizadas analogias com sua biografia e alegorias do senso comum.
Outro elemento marcante da fala despolitizadora do petista foi o de evitar esclarecer quais setores seriam os prejudicados por um eventual governo Lula. A questão é fundamental. O Estado brasileiro vive uma de suas mais graves crises orçamentárias. Para fazer jus ao dinheiro do FMI no ano que vem, o novo presidente terá de produzir uma economia de recursos públicos (receitas menos despesas, antes dos juros) de 3,75% do PIB -um nível alto para padrões internacionais.
Lula se recusou a dizer, por exemplo, se os bancos iriam contribuir mais para o esforço fiscal. Saiu-se com frases diversionistas como "Em vez de falar em quem vai perder, vamos falar em quem tem de ganhar".
A guinada centrista do candidato foi tão rápida que não falta quem coloque em questão a sua sinceridade. Em setembro de 2000, por exemplo, num plebiscito sobre a dívida externa promovido pela CNBB, o partido defendia o rompimento com o FMI; hoje Lula se diz disposto a acatar os termos do Fundo. A palavra "socialismo", que dava a tônica do programa do PT em 1989 e ainda surgia nas propostas do partido em 1994 e em 1998, foi banida da versão 2002.
Agora, o candidato petista, vislumbrando um confronto final contra Ciro Gomes, tenta exibir-se para os setores moderados como a alternativa mais confiável. Desse modo, adota, apressadamente, a "realpolitik" que marcou a trajetória do presidente Fernando Henrique Cardoso, a qual Lula e seu partido tanto criticaram.



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