São Paulo, quarta-feira, 14 de agosto de 2002

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CENA AGITADA

A crise de financiamento externo continua a revelar velocidade surpreendente. Esperava-se que o anúncio do acordo com o FMI criasse uma "trégua" na piora de expectativas. Mas na prática o alívio tem sido incomodamente modesto.
No mercado de câmbio, o cessar-fogo foi muito breve. Já se avaliava que o acordo com o FMI poderia não propiciar uma retomada rápida do crédito externo. Mesmo assim, não se esperava que a cotação do dólar seguisse tão pressionada. No entanto, ontem, apenas seis dias depois do anúncio do acordo, o dólar fechou em alta pelo terceiro dia seguido, a R$ 3,17 (depois de alcançar R$ 3,26).
O dólar muito alto e volátil é fator de pessimismo. Se o governo lograsse disciplinar sua cotação, sinalizaria ter razoável controle sobre a situação -o que ajudaria a dissipar o clima de "aversão ao Brasil" (expresso, também, na nova alta do risco-país).
Não é tarefa trivial, mas há o que fazer. Além do reforço do financiamento aos exportadores, vêem-se duas frentes de ação emergencial. A primeira é o uso mais agressivo, pelo Banco Central, do cacife que acaba de obter para intervir no mercado de câmbio. Com a devida cautela (para não queimar rapidamente seu cacife), o BC precisa reforçar logo o temor de que apostar na alta do dólar pode trazer pesadas perdas.
A outra iniciativa já foi esboçada pelo presidente, que convidou os principais candidatos à sua sucessão para discutir o acordo com o FMI e a transição de governo. A velocidade da crise acabou por diluir, rapidamente, a resistência dos candidatos a aceitar o convite.
Pode-se alegar que encontros desse tipo tendem a trazer poucos resultados práticos. É até provável que seja assim. Mas, num quadro em que os investidores externos apontam a incerteza eleitoral como a razão maior da sua reticência, demonstrações de que há diálogo entre as forças políticas podem ter algum efeito tranquilizador. A esta altura, alguma dose de jogo de cena faz parte do jogo.



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