|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CENA AGITADA
A crise de financiamento externo continua a revelar velocidade surpreendente. Esperava-se que o
anúncio do acordo com o FMI criasse uma "trégua" na piora de expectativas. Mas na prática o alívio tem sido
incomodamente modesto.
No mercado de câmbio, o cessar-fogo foi muito breve. Já se avaliava
que o acordo com o FMI poderia não
propiciar uma retomada rápida do
crédito externo. Mesmo assim, não
se esperava que a cotação do dólar seguisse tão pressionada. No entanto,
ontem, apenas seis dias depois do
anúncio do acordo, o dólar fechou
em alta pelo terceiro dia seguido, a
R$ 3,17 (depois de alcançar R$ 3,26).
O dólar muito alto e volátil é fator
de pessimismo. Se o governo lograsse disciplinar sua cotação, sinalizaria
ter razoável controle sobre a situação
-o que ajudaria a dissipar o clima de
"aversão ao Brasil" (expresso, também, na nova alta do risco-país).
Não é tarefa trivial, mas há o que fazer. Além do reforço do financiamento aos exportadores, vêem-se
duas frentes de ação emergencial. A
primeira é o uso mais agressivo, pelo
Banco Central, do cacife que acaba
de obter para intervir no mercado de
câmbio. Com a devida cautela (para
não queimar rapidamente seu cacife), o BC precisa reforçar logo o temor de que apostar na alta do dólar
pode trazer pesadas perdas.
A outra iniciativa já foi esboçada
pelo presidente, que convidou os
principais candidatos à sua sucessão
para discutir o acordo com o FMI e a
transição de governo. A velocidade
da crise acabou por diluir, rapidamente, a resistência dos candidatos a
aceitar o convite.
Pode-se alegar que encontros desse
tipo tendem a trazer poucos resultados práticos. É até provável que seja
assim. Mas, num quadro em que os
investidores externos apontam a incerteza eleitoral como a razão maior
da sua reticência, demonstrações de
que há diálogo entre as forças políticas podem ter algum efeito tranquilizador. A esta altura, alguma dose de
jogo de cena faz parte do jogo.
Texto Anterior: Editoriais: CANDIDATO EVASIVO Próximo Texto: Editoriais: COMOÇÃO COLOMBIANA Índice
|